Você não precisa de mais features
A inteligência artificial está acelerando tudo. Desenvolvimento, design, marketing, operação. Times que levavam semanas para lançar uma nova função agora fazem isso em questão de horas. O que antes era um gargalo técnico virou uma vantagem competitiva. Mas essa velocidade trouxe um problema que ninguém quer admitir: estamos enchendo nossos produtos de coisas que não precisavam existir.
A IA está resolvendo o problema errado. Ela removeu o atrito de construir, mas não o de pensar. Em vez de clareza, trouxe abundância. E quando tudo pode ser feito, quase ninguém para para decidir o que deve ser feito. O resultado é um tsunami de novas funcionalidades lançadas sem contexto, sem propósito e sem conexão com a real necessidade do usuário. É o “feature bloat” em sua versão turbinada pela IA.
Antes as limitações técnicas forçavam o foco. Agora o risco é o oposto: produtos inflados, pesados, confusos. A cada nova funcionalidade nasce uma nova camada de complexidade. A usabilidade se perde. O design se fragmenta. E o usuário, que deveria se beneficiar da tecnologia, passa a carregar o peso dela. A IA não criou esse problema, apenas o acelerou até o limite.
O dilema é simples: se tudo é fácil de construir, o que nos impede de construir demais? A resposta é o que diferencia um time imaturo de um time maduro. Não é a ferramenta, é o critério. Os melhores times não são os que entregam mais, mas os que entregam o essencial com cuidado. E esse cuidado não é um luxo. É o que mantém a clareza em meio à velocidade.
Empresas que confundem agilidade com eficiência acabam presas no ciclo da pressa. Constroem rápido, lançam sem propósito, medem o engajamento errado e chamam de sucesso o que é apenas movimento. O resultado chega meses depois: produto inchado, usuários cansados e times perdidos em um backlog que ninguém entende. A IA amplifica esse ruído porque elimina o custo de execução e, com ele, a pausa necessária para pensar.
A tecnologia é poderosa, mas não é sábia. Modelos de linguagem não sentem o desconforto de uma interface mal resolvida. Não percebem quando o fluxo perdeu sentido. Não têm senso de timing, urgência ou propósito. Eles apenas geram. É por isso que, mais do que nunca, o papel humano é discernir. Cuidar para que o produto continue humano mesmo quando tudo é feito por máquinas.
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Os próximos anos vão separar quem usa IA como alavanca de quem usa como muleta. De um lado, os que constroem sem pensar, movidos pelo fascínio da velocidade. Do outro, os que escolhem o que vale a pena construir, com intenção e cuidado. É nesse segundo grupo que estarão os produtos duradouros, os que realmente fazem diferença.
A IA nos deu aceleração, mas o verdadeiro diferencial continua sendo o cuidado. E cuidado, aqui, não é lentidão. É profundidade. É a capacidade de perguntar “por quê?” antes de clicar em “gerar”. É a escolha consciente de remover o que não serve. De simplificar quando tudo empurra para o complexo.
O futuro não pertence a quem constrói mais rápido, mas a quem constrói melhor. Porque velocidade é abundante. O que falta, e sempre vai faltar, é cuidado.
Para PMs: o desafio é retomar o papel de filtro estratégico. Não se trata de negar a IA, mas de usá-la com propósito. O foco deve estar em validar hipóteses antes de gerar soluções, em proteger a clareza do produto e em garantir que a velocidade sirva ao valor, e não o contrário.
Para founders: velocidade sem direção é desperdício disfarçado de progresso. O papel da liderança é reforçar critérios de decisão, evitar a cultura do “lança e vê” e definir o que realmente gera vantagem competitiva. Construir menos pode ser o que faz a empresa crescer mais.
Para stakeholders: quantidade de entregas não é sinônimo de impacto. O novo indicador de sucesso deve ser clareza de propósito e consistência de uso. Um produto enxuto, coerente e fácil de amar é muito mais rentável do que um sistema que confunde o cliente.


Sensacional Paulo. Excelente Reflexão. Se der uma pitada de sal sobre qualidade, ai a quantidade se coroe completamente :-).
Precisamos de mais valor final, mais qualidade, mais certezas e menos quantidade!