A ilusão da esteira infinita
Por que mais features e mais pessoas não garantem mais impacto.
James Gunn, agora à frente do DC Studios, foi direto ao ponto: a Marvel perdeu o rumo quando trocou critério por volume. E a mesma lógica destrutiva vale para times de produto.
Quando o volume vira política, a qualidade vira exceção
Em entrevista à Rolling Stone, Gunn comentou que a Marvel entrou em declínio quando deixou de aprovar projetos pela qualidade do roteiro e passou a trabalhar por metas corporativas. Segundo ele, a ordem da Disney era clara: produzir mais filmes e séries para alimentar o Disney+, independentemente de coerência narrativa ou relevância criativa.
O reflexo é direto: quantidade como métrica virou um atalho para saturação. As fases 4 e 5 do MCU não apenas perderam audiência e crítica, mas criaram uma crise de confiança no público. Mesmo quando os trailers voltam a empolgar, a desconfiança persiste.
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O mesmo acontece em produtos digitais: mais squads, mais releases, mais iniciativas, mas com cada vez menos relevância. Não é crescimento, é dispersão.
Headcount alto com critério baixo é um problema, não uma solução
Gunn revela que parte do colapso veio do aumento forçado da produção e da equipe. Mais pessoas foram contratadas para dar conta da demanda, mas com prazos curtos, pressão corporativa e pouca autonomia criativa. Resultado: entregas genéricas, histórias esquecíveis.
Na gestão de produto, o reflexo é claro. Inchar time sem antes resolver prioridades, alinhamento e clareza do que realmente importa é só acelerar o caos. Não adianta escalar o time se o direcionamento continua confuso.
Mais gente sem uma estratégia clara não gera mais impacto. Só gera mais barulho.
O que deveria vir antes: roteiro, clareza e critério
James Gunn diz que, na DC, nada sai do papel sem que ele esteja pessoalmente satisfeito com o roteiro. A premissa é simples: a base de qualquer entrega é uma boa história, no nosso caso, um problema bem definido, uma jornada consistente, um escopo com propósito real.
Boas lideranças de produto sabem escolher onde vale a pena investigar mais antes de executar, e onde já existe clareza suficiente para agir com rapidez. Nem tudo exige discovery profundo. Mas tudo exige discernimento. Essa é a diferença entre atuar com foco e simplesmente manter a máquina rodando.
Quando tudo é urgente, nada é relevante
O excesso de conteúdo do MCU criou uma fadiga perceptível. Gunn aponta que mesmo um filme com boa crítica e trailers empolgantes como Thunderbolts não consegue mais gerar bilheteria. O público cansou de ver "mais do mesmo".
É o mesmo com produtos digitais. Quando toda sprint precisa entregar algo “visível” e toda review precisa ter um “lançamento”, acaba-se treinando o usuário a ignorar tudo. Nada surpreende. Nada gera valor real.
Feature fadiga não é um problema estético. É o sintoma de uma cultura que perdeu o filtro.
O que um estúdio de cinema pode ensinar para um time de produto
A fala de James Gunn serve de alerta para quem lidera produtos digitais: não se trata de fazer mais, e sim de fazer valer. O público, seja espectador ou usuário, percebe quando a entrega é feita por critério ou por obrigação.
Se você lidera um time de produto, vale se perguntar:
Estamos aprovando projetos porque têm um bom problema ou porque temos um prazo?
Estamos contratando porque falta gente ou porque falta foco?
Estamos entregando porque vai gerar valor ou porque a sprint precisa terminar com algo lançado?
A resposta honesta costuma mostrar se o time está construindo algo duradouro… ou só produzindo volume que ninguém vai lembrar.