O memorando assinado por Andy Jassy, CEO da Amazon, em 17 de junho de 2025, é mais do que uma atualização de status. É um blueprint de reconfiguração estratégica, tecnológica e cultural. A Amazon está oficializando uma transição: de uma empresa que usava IA como ferramenta para uma empresa que opera com IA como fundamento.
O que está sendo descrito ali não é apenas um plano de produto. É um novo sistema operacional interno, e ele vem com mudanças estruturais e claras implicações para o futuro do trabalho.
A Amazon não está testando IA. Ela já reconstruiu tudo com ela.
O ponto de partida do texto é direto: a IA generativa já está incorporada a praticamente todas as áreas da Amazon. Do lado do consumidor, ela aparece em assistentes, interfaces e funcionalidades inteligentes. Do lado da operação, ela reorganiza processos, automatiza tarefas e melhora decisões. Mas o que Jassy defende não é simplesmente continuar avançando em ritmo constante. É mudar de escala e de paradigma.
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Segundo o CEO, a Amazon já criou ou está desenvolvendo mais de mil serviços e aplicações com IA generativa. Mas esse número, para o tamanho da empresa, ainda é pouco. A próxima etapa é construir um ecossistema de agentes, sistemas autônomos que atuam como colegas de trabalho digitais.
Esses agentes vão executar tarefas, fazer pesquisa, analisar dados, escrever código, tomar decisões. Vão trabalhar com as equipes. Vão aprender com o tempo. Vão fazer parte da estrutura de times reais.
“Agentes permitirão que comecemos tudo de um ponto mais avançado”. “Vão nos libertar do trabalho repetitivo e nos permitir focar em melhorar experiências e inventar novas.” - escreve Jassy.
O que já mudou para o cliente, para os sellers e para os times
Jassy cita aplicações concretas em várias frentes, para mostrar que essa transformação já está em curso:
Alexa+: assistente pessoal redesenhada, agora com autonomia para tomar decisões e executar ações, além de responder perguntas.
Assistente de compras com IA: já usado por dezenas de milhões de pessoas para encontrar, comparar e decidir.
Funcionalidades como “Lens” e “Buy for Me”: o usuário tira uma foto ou faz um pedido em linguagem natural, e a IA resolve a tarefa e até mesmo em sites de terceiros.
Apoio para sellers: 500 mil vendedores já usam IA para criar páginas de produto melhores e receber conselhos de performance.
Publicidade: 50 mil anunciantes usaram as novas ferramentas de IA em campanhas no primeiro trimestre de 2025.
Infraestrutura de IA na AWS: chips próprios (Trainium2), modelos fundacionais (Bedrock e SageMaker), modelo proprietário (Nova) e ferramentas para desenvolvedores (Q e QCLI).
Internamente, a IA já impacta logística, previsão de demanda, robótica, atendimento ao cliente e até a montagem automatizada de páginas de produto. Em vez de tratar a IA como uma vertical ou como um projeto separado, a Amazon está fazendo dela uma camada horizontal que atravessa tudo.
Agentes não são features. São o novo time.
A aposta estratégica central é nos agentes. Jassy define agentes como sistemas que usam IA para executar tarefas com base em comandos simples, muitas vezes em linguagem natural. Eles serão capazes de:
Fazer pesquisa profunda e resumir resultados
Escrever código e depurar erros
Traduzir linguagem ou converter formatos
Automatizar tarefas de negócios e operações
Encontrar insights em grandes volumes de dados
Para a Amazon, os agentes não são apenas uma nova interface. São uma nova força de trabalho. Segundo Jassy, a empresa vai facilitar a criação de agentes internos e lançar novos agentes em todas as unidades de negócio. A expectativa é que isso aumente a velocidade de entrega, reduza o retrabalho e transforme a rotina de milhares de funcionários.
Mas essa transformação vem com efeitos colaterais:
“Vamos precisar de menos pessoas fazendo alguns trabalhos, e mais pessoas fazendo outros… No saldo dos próximos anos, isso deve reduzir nosso headcount corporativo total.”
É uma admissão rara e direta: a adoção massiva de IA vai gerar eficiência suficiente para reestruturar a força de trabalho. O desafio, agora, é como essa transição será gerida e como os funcionários se preparam para se reposicionar.
IA virou cultura, não só tecnologia
O trecho mais revelador do memorando talvez seja o que trata da cultura interna. Jassy resgata a lógica original da Amazon de 1997: equipes pequenas, escopo amplo, velocidade de entrega e ambição alta. Ele lembra seu início como assistant product manager e usa esse cenário como modelo para o futuro.
“Naquela época, não tínhamos ferramentas parecidas com IA generativa.
Mas tínhamos liberdade para inventar e um apetite enorme para melhorar a experiência do cliente.”
Agora, com a IA como aliada, a ambição é voltar a operar como uma startup, mesmo sendo uma das maiores empresas do mundo. Ele escreve:
“We’re going to keep pushing to operate like the world’s largest start-up — customer-obsessed, inventive, fast-moving, lean, scrappy, and full of missionaries trying to build something better for customers and a business that outlasts us all.”
Tradução livre:
Vamos continuar operando como a maior startup do mundo — obcecados pelo cliente, criativos, ágeis, enxutos, improvisadores e cheios de gente com espírito de missão, construindo algo melhor para os clientes e para um negócio que dure além de nós.
Essa ideia é o pano de fundo da reestruturação: IA não apenas como tecnologia, mas como cultura. Não se trata só de acelerar entregas ou reduzir custos. Trata-se de reorganizar a forma como as pessoas trabalham, pensam, decidem e colaboram com times menores, mais donos, mais rápidos e mais equipados.
O jogo não é mais quem tem IA. É quem opera com IA por padrão.
O memorando é uma peça valiosa de leitura para quem observa o mercado de tecnologia. Ele revela um alinhamento raro entre visão, execução e cultura. A Amazon está construindo um sistema completo de IA, que vai da infraestrutura técnica até a reinvenção do trabalho.
Três pontos merecem destaque:
A Amazon está virando um ecossistema fechado de IA.
Do chip ao consumidor, passando por modelo fundacional, ferramenta para dev, assistente para cliente e agente para operação. A empresa está desenhando uma linha de produção inteira com controle sobre cada etapa.O modelo de time será híbrido: humanos + agentes.
Os agentes não são periféricos. Eles serão parte dos times, parte das rotinas, parte das decisões. Isso muda a natureza do trabalho e a composição de squads inteiros.A cultura interna está sendo redesenhada para suportar isso.
Não basta treinar pessoas. É preciso mudar a estrutura, o mindset, o jeito de construir. A carta não fala sobre uma revolução tecnológica. Fala sobre um novo jeito de operar.
Efeito dominó: o que essa mudança antecipa para o mercado
Para quem lidera produto, tecnologia ou negócio em qualquer escala, o recado é claro: IA generativa não é mais diferencial. É baseline.
A disputa agora é por fluência. Quem aprende a usar IA como parte da rotina e não como ferramenta extra, acelera. Quem treina seus times para construir com agentes, escala. E quem reorganiza sua cultura antes dos concorrentes, sobrevive melhor ao próximo ciclo.
A Amazon já começou esse processo.
A pergunta real é: quem mais vai operar como se fosse a maior startup do mundo, com IA no centro de tudo?
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