Cada escolha, uma renúncia: como a maternidade impacta a carreira em Produtos Digitais
A disponibilidade para trabalhar é um grande ofensor para o crescimento profissional das mulheres no trabalho e foi preciso uma premiação do Nobel de Economia para chamar atenção sobre o tema
Meu nome é Pati Duarte e quero te convidar para uma reflexão importantíssima sobre a maternidade no ambiente de trabalho e o que a tecnologia agrega ou prejudica ainda mais esse cenário em pleno século XXI.
Prepare o seu lugar de leitura, reserve alguns minutos e venha comigo para uma viagem que vai te levar do home office ao Nobel, não necessariamente nessa ordem.
A maternidade por si só já é um contexto extremamente desafiador para as mulheres e para os seus parceiros ou parceiras também, escolher o momento para iniciar esse desafio tem se tornado assunto de muita terapia por aí.
De um lado temos cada vez mais homens exercendo a paternidade ativa e do outro mulheres sobrecarregadas entre o maternar, a casa e o trabalho, e onde mora o grande problema disso tudo? O mercado continua o mesmo, com as suas 44 horas semanais, infinitas horas extras e aumento de exigências. Arrisco dizer que com o home office isso ganhou novas dimensões e vamos falar sobre isso logo alí nas próximas linhas.
A tal da eficiência operacional
Falamos tanto sobre as mudanças no mercado das startups, mas a economia mundial ainda está se reorganizando depois de uma crise de saúde pública, que teve seu fim declarado em maio deste ano através de uma nota da Organização Mundial de Saúde, além de guerras e outros contextos políticos e sociais, mas o grande ponto aqui: precisamos fazer mais e melhor com menos.
O cinto apertado da eficiência operacional passou a ser o novo normal e as exigências descem as escadas da hierarquia ganhando força e velocidade dentro das big corps e nas startups.
Essa demanda de mais entregas em menos tempo ou melhores com times enxutos casa perfeitamente com a pesquisa da premiada Claudia Goldin, Nobel de Ciências Econômicas de 2023.
A pesquisa que ganhou os holofotes da mídia nessa última semana em razão do Nobel de Economia ser dado justamente a uma mulher, fala sobre "disponibilidade para o trabalho" e o impacto disso na disparidade salarial entre homens e mulheres. Em uma entrevista dada por Claudia Goldin ao EL PAÍS ( ), vale o destaque:
"A que se deve a disparidade de gênero? “Não é discriminação”, alerta, em tom professoral. “Há algo mais.” Segundo suas pesquisas, a disparidade salarial não tem entre seus principais motivos o fato de as mulheres competirem menos e negociarem pouco, nem a existência de chefes machistas. Todas essas razões só têm um impacto residual. Na verdade, a disparidade salarial se ampliou quando se desenvolveu o trabalho de cunho mais administrativo, cuja organização levou a uma maior valorização do trabalhador capaz de dedicar mais horas ao emprego." EL PAÍS, 2019, ANTONIO MAQUEDA, Bilbao - 22 jun 2019 - 16:30, Atualizado:22 JUN 2019 - 20:30 BRT
Se você ainda não fez as contas, vamos lá: mais eficiência, mais cobranças, mais disponibilidade, menos mulheres no mercado de trabalho, menos equidade, menos diversidade. É uma bola de neve que cresce.
Disponibilidade para o trabalho: o obstáculo para o crescimento
É aqui que eu te levo do home office ao Nobel em 2 minutos!
Cuidar de um bebê não leva apenas 4 meses após seu nascimento, mas a legislação determina que esse é o tempo suficiente para adaptação de uma família e início de uma vida externa de um novo indivíduo. 6 meses de licença maternidade é um luxo dentro de uma bolha bem pequena da sociedade.
Opa, mais um ponto, para as mães o período é maior, já para os pais esse tempo é ridiculamente menor, por lei temos impressionantes 5 (cinco) dias corridos. Nem preciso dizer que isso é um absurdo.
Se você é mãe ou pai, isso aqui doeu aí em você como dói em mim.
Ter mais disponibilidade para o trabalho é de fato um desafio para ambos, mais para as mulheres, sem dúvida, mas o desafio se intensifica aqui quando falamos de home office e tecnologia.
O trabalho de Claudia Goldin vai além do assunto disparidade salarial, ela também é especialista nas interações entre emprego e tecnologia e afirma que a tecnologia por ser intrusiva, leva o indivíduo a estar ainda mais disponível. O trabalho está cada vez mais presente dentro de casa.
Como crescer nesse cenário? Ficando cada vez mais disponível.
Ficar disponível e entrar no desafio da parentalidade são duas situações que caminham para lados opostos. Posso afirmar com toda a certeza: o mundo não é feito para quem tem filhos.
A disponibilidade na carreira de Produtos é algo essencial, quando comecei minha jornada na área já me avisaram que eu teria que gostar de trabalhar 12 horas por dia. Mas é possível ter vida e vai depender das suas escolhas, então segue aqui que já já te conto alguns caminhos alternativos, mas não são atalhos!
É fácil decidir, difícil é conviver com a escolha: estatísticas e percepções
Em maio deste ano, o portal Empregos.com.br divulgou o resultado de uma pesquisa com 273 mulheres e mais da metade delas, 56%, já foram demitidas após retornarem da licença maternidade ou afirmam conhecer alguma mulher que já passou por isso.
Infelizmente, mesmo nos dias de hoje a maternidade ainda é vista quase como uma escolha que parece estar em conflito com a vida profissional.
Em 2019 a Catho realizou uma pesquisa com mais de 2 mil pessoas que indicou que 30% das mulheres abrem mão do emprego para cuidar dos filhos, esse número cai para 7% para os homens.
Com a onda de Layoffs que vimos no último ano, mais números mostram como o mercado atinge as mulheres. No fim do ano de 2022 a Eightfold divulgou números nada amigáveis, que indicam que as mulheres têm, em média, 65% mais probabilidade de serem despedidas do que os homens na indústria tecnológica.
Mas faz todo o sentido no contexto absurdo e nada favorável para as mulheres, novamente, veja o racional, os homens são mais disponíveis, ganham melhores salários, têm números mais positivos quanto aos níveis de empregabilidade, a escolha da mulher abrir mão do emprego é muito racional dentro do lar e pela segurança de todos, mas é uma bola de neve que precisa ter um fim, essa decisão precisa ser uma escolha entre os interessados e não uma triste estatística.
Já sabemos os números, os dados comprovam, o que precisa agora é um movimento de mudança.
Como encorajar mudanças reais
É um privilégio para poucas mulheres falar abertamente sobre o tema no ambiente de trabalho sem gerar desconforto ou ser classificada como ativista. Mas o assunto precisa ser colocado em pauta.
As empresas serem mais flexíveis é um caminho e mesmo com muitas mudanças acontecendo essa caminhada é longa, sendo um pouco futurista aqui, mas otimista:
1- Lugar de fala ajuda muito, ambientes seguros em que o assunto pode ser discutido encontrando caminhos alternativos e positivos para ambos os lados, tanto da pessoa colaboradora quanto da empresa são o melhor cenário;
2- Flexibilidade de horário e de local de trabalho, não estou falando de home office nesse caso, é novamente ter tempo para ouvir o que essa mulher precisar e acolher da melhor forma possível;
3- Licença parental, não só licença maternidade, mas que seja de fato um direito de ambos e uma possibilidade para ambos;
4- Empatia. Se colocar no lugar de uma mãe nunca vai te dar a real dimensão do que é a maternidade, mas vai ajudar muito a mulher que está precisando de ajuda.
Dito isso, vamos caminhar para o fim desse nosso momento de leitura de forma mais leve e cheia de carinho sobre equilíbrio, desafio monstruoso para as mamães.
Equilíbrio entre maternidade e carreira em Produtos Digitais
O equilíbrio entre a maternidade e uma carreira bem-sucedida em produtos digitais é uma busca constante. Uma das estratégias-chave para atingir esse equilíbrio é a criação de rotinas bem definidas e gerenciamento eficaz do tempo.
Organizar o dia de forma estratégica, estabelecendo prioridades e dedicando tempo exclusivo para o trabalho e a família, pode ajudar a minimizar conflitos e garantir que ambas as áreas recebam a atenção necessária, eu sei que não é fácil, mas vale o esforço!
Além disso, a comunicação aberta e eficaz no ambiente de trabalho é fundamental como eu disse aí em cima e não canso de reforçar.
Estabelecer expectativas claras com o time e os líderes, comunicar horários flexíveis e necessidades familiares pode criar um ambiente de compreensão e apoio que podem te dar mais paz de espírito.
Muitas empresas estão cada vez mais reconhecendo a importância do equilíbrio entre vida pessoal e profissional e estão implementando políticas de flexibilidade, como trabalho remoto ou horários flexíveis, que beneficiam especialmente as mães.
Histórias inspiradoras de mulheres que conseguiram conciliar com sucesso suas carreiras em produtos digitais e a maternidade são fundamentais para encorajar outras mães, busque reforço positivo para esse momento. Essas histórias demonstram que é possível superar os desafios, criar estratégias eficazes e alcançar o sucesso em ambas as esferas, mesmo que momentaneamente um ou outro pratinho esteja quase caindo.
Em última análise, o equilíbrio entre a maternidade e a carreira em produtos digitais requer adaptação, flexibilidade e autocompaixão. Cada jornada é única, e é importante que as mães se permitam ajustar suas estratégias de acordo com suas circunstâncias e necessidades.
Esse texto termina aqui, mas segue com um abraço bem apertado para leitoras e leitores que estão vivendo essa jornada ou aqueles que querem se aventurar ainda.
Vai dar tudo certo! :)
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Excelente artigo e reflexão...