Oie eu sou a Isadora Pires e hoje vamos entender juntos os desafios éticos e morais que podemos enfrentar no dia a dia, já que como Product Managers, somos responsáveis por trazer ao mercado produtos que não apenas atendam às necessidades de nossos clientes, mas também se alinhem com os valores e padrões éticos da nossa empresa e da sociedade.
Nós estamos no centro das decisões que afetam a tecnologia que usamos, a maneira como a usamos e, potencialmente, o impacto que ela tem na nossa sociedade, pegue seu café - recomendo uma dose extra forte - e me acompanhe neste texto.
“Ética significa tomar as melhores decisões possíveis em relação às pessoas, aos recursos e ao meio ambiente. As escolhas éticas diminuem o risco, promovem resultados positivos, aumentam a confiança, determinam o sucesso a longo prazo e constroem reputações.” - de acordo com o Project Management Institute (PMI),
A ética na tecnologia não é um conceito novo e vez ou outra aparece uma história de algum hack, violação de senha ou coisa pior, histórias como o abuso de dados do Facebook pela Cambridge Analytica , a Volkswagen construindo seus carros para enganar os testes de emissões , o Facebook coletando TUDO, no lançamento beta do iOS 14 na WWDC da Apple, os usuários viram quais aplicativos estavam "bisbilhotando " seus dados (e com que frequência), por isso entendemos como é importante e o porque, com Product Managers, devemos nos preocupar com essa pauta.
Para entender como os Product Managers enfrentam desafios éticos, é crucial compreender o papel que desempenham na economia digital, nós somos os arquitetos por trás dos produtos e serviços que usamos diariamente.
Nós definimos o que será criado, como será criado e como isso afetará a vida das pessoas.
Isso nos coloca em uma posição de grande responsabilidade, nós não apenas moldamos a experiência do usuário, mas também impactamos questões sociais, como privacidade, segurança e igualdade, com o avanço da tecnologia, o escopo das nossas decisões éticas se expandem constantemente.
O desafio dos dilemas éticos na Gestão de Produtos
Para entender na prática como gerenciamos esses desafios, ninguem mais, ninguem menos que Kewin Moya - Senior Product Manager da OLX - topou responder algumas perguntas de como ele enfrenta esses dilemas e desafios no seu dia-a-dia, vamos ver o que ele respondeu?
Como você lida com o equilíbrio entre a inovação tecnológica e a responsabilidade ética ao desenvolver um novo produto?
Kewin: Analiso esse equilíbrio de duas formas diferentes e que são importantes para os avanços de produtos e das empresas.
Fere alguma lei? Caso essa inovação, disrupção ou avanço no produto venha contra alguma legislação, é preciso repensar quais manobras serão realizadas para estar adequada e essa mudança não venha a se tornar um problema ainda maior no futuro.
Vai contra algum dilema moral? Sabemos que questões morais são muito relativas de pessoa para pessoa, mas algo que acredito ser importante na análise é se este produto ou serviço que está sendo desenvolvido, pode agredir algum grupo ou compactuar com a disseminação de algum preconceito.
Quando olhamos da ótica da lei, não tem muito o que ser discutido, pois os caminhos que estão nas nossas mãos são a adaptação do produto ou serviço aquela lei, ou tentar seguir por outros caminhos, visto que qualquer mudança na legislação já vai para outro âmbito que na maior parte das vezes, não temos controle algum.
Mas quando olhamos para a ótica moral, pego, por exemplo, a indústria da pornografia, que apesar de ter muitos profissionais em uma das maiores indústrias do mundo, viola muitas questões quando observamos a quantidade de sequestros de mulheres para serem feitas de escravas sexuais ou até mesmo no submundo da pornografia infantil. O buraco é muito mais embaixo do que uma simples evolução de um site que vai garantir engajamento. Mas podemos olhar por várias óticas, como questões de posicionamento político, social e de visão de mundo.
Pode me dar um exemplo específico de um dilema ético que você enfrentou na gestão de produtos e como o resolveu?
Kewin: Em uma das empresas que passei, um dos produtos tinha um volume muito alto de acesso diariamente e notamos que a cada 45 segundos, havia um refresh na página, gerando uma nova sessão, o que levou a desconfiança do time de engenharia, que investigou e fez as correções necessárias. Quando fomos mais fundo para entender os 'por quês' do negócio, descobrimos que uma gestão antiga havia colocado a quantidade de sessões como meta de bônus anual e, independente dos resultados financeiros do negócio, aquela métrica, naquele momento, era a mais importante de todas. O resultado era que a meta de fato foi superada e, mesmo com a empresa operando no negativo, respirando por aparelhos, o bônus de 6 dígitos foi distribuído para a diretoria antiga.
Como sua equipe define e implementa princípios éticos para orientar o desenvolvimento de produtos?
Kewin: Isso precisa estar entranhado nas pessoas para questionar no dia a dia as decisões e avanços. Do Product Manager questionando os norteadores de negócio aos Desenvolvedores questionando a direção que o produto está indo.
Meu atual time tem esse perfil e desenvolvemos essa cultura interna, onde questionamos tudo, de decisões simples às complexas, da visão do negócio e dos nossos produtos aos trabalhos mais técnicos possíveis.
E tudo isso vai de acordo com a evolução dos produtos sob nosso portfólio, onde sempre nos questionamos "fazer isso vai contra alguma regra?".
Quando você consulta partes interessadas, como especialistas em ética e grupos de defesa dos direitos do consumidor, ao tomar decisões éticas?
Kewin: Nunca realizei nenhuma consulta oficial com grupos ou especialistas em ética nos desenvolvimentos que realizei, mas, o time jurídico é muito acionado para validar muita coisa que queremos fazer. A pior coisa é ignorar o parecer legal de alguma iniciativa e ela não ser executada por essa falta de alinhamento, então, é um stakeholder muito importante no processo de desenvolvimento de produtos.
Qual é a importância da transparência na coleta e uso de dados dos usuários, e como sua empresa aborda essa questão?
Kewin: Processo importantíssimo, primeiro para não colocar o negócio em risco realizando algo contra a lei, por isso a necessidade de ter um time jurídico por dentro do que está sendo realizado, além de que precisamos dar essa transparência ao nosso usuário de como vamos utilizar seus dados e suas informações.
Aqui operamos dessa forma e em meu contexto de produto, temos que estar ainda mais de olho, pois faço a gestão do recebimento, qualificação e processamento de leads, ou seja, dados sensíveis que os usuários disponibilizam para a companhia.
O que sua empresa está fazendo para garantir a igualdade e a inclusão em seus produtos, considerando diferentes origens, gêneros e habilidades dos usuários?
Kewin: A mudança precisa começar de dentro para fora e o que vejo na minha empresa é que isso influencia diretamente a gestão e o desenvolvimento dos produtos. Foi a primeira empresa em que pude ver muitas mulheres na liderança e quando falo liderança, é em todos os níveis, da coordenação ao C-Level, o que ajuda a inspirar ainda mais no dia a dia. Essas mudanças precisam acontecer em todos os níveis da companhia, mas quando vem de cima para baixo como exemplo, faz total diferença, pois conseguimos enxergar que não é apenas uma 'campanha' de marketing ou para tentar se mostrar como uma boa empresa, mas de fato faz aquilo que acredita.
Como você enxerga o futuro dos dilemas éticos na gestão de produtos, especialmente com o avanço da inteligência artificial?
Kewin: Acredito que os profissionais estão construindo mais consciência do impacto causado por seus produtos e serviços e com isso, essas discussões e debates serão realizados com maiores frequências e levando mais a sério no processo de desenvolvimento.
E com o avanço da IA, com toda certeza esse tema será ainda mais discutido, pois já estamos vendo isso acontecer com muito mais intensidade no mercado da arte. Se resgatarmos as greves dos roteiristas de cinema, uma das reivindicações era justamente o não uso total da IA na construção de roteiros inteiros ou a utilização de dublagem por IA. É um tema longo, que veremos cada vez mais em todas as indústrias que podemos imaginar.
Como você acredita que os Product Managers estão se educando continuamente em questões éticas para se manterem atualizados?
Kewin: Aos poucos eu diria que sim. Quando começamos a construir mais consciência, passamos a questionar mais o que sempre foi feito e se faz sentido continuar daquela forma. Vejo um movimento positivo nessa mudança de comportamento dos Product Managers.
O impacto de ignorar a ética na gestão de produtos
Se um Product Manager não tiver a ética em mente ao construir produtos, isso pode causar danos a clientes, empresas, stakeholders e muitos mais. Alguns desses impactos são:
Violações de privacidade: se um produto não respeitar a privacidade do usuário, poderá levar a violações de dados, roubo de identidade e outras formas de crime cibernético.
Discriminação: Produtos que perpetuam preconceitos ou discriminam determinados grupos de pessoas podem prejudicar comunidades marginalizadas e reforçar sistemas de desigualdade.
Falta de transparência: Se os usuários não forem informados sobre a coleta e utilização dos dados, eles podem não confiar no produto ou na empresa.
Consequências não intencionais: Um produto que não é projetado ou testado de forma responsável pode ter consequências negativas não intencionais, como causar danos físicos ou emocionais.
Falta de sustentabilidade: Produtos que não são ecológicos podem contribuir para a poluição e outras formas de degradação ambiental.
Perda de confiança: Se uma empresa ou produto for visto como antiético, isso pode levar à perda de confiança de clientes, parceiros e investidores.
Ação legal: Indivíduos e empresas podem ser considerados culpados e enfrentar graves consequências legais.
Encerramento de negócios: Os clientes e outras partes interessadas podem perder total confiança numa empresa e podem ser forçados a encerrar o negócio.
Como você mede a ética?
É importante observar que medir a ética em produtos pode ser complexo e exigir vários métodos para fornecer uma compreensão abrangente. Além disso, pessoas diferentes podem ter padrões éticos diferentes e, portanto, ter percepções diferentes sobre o que é ético.
Algumas métricas que podem indicar se um produto foi construído de forma ética incluem:
Normas trabalhistas
Impacto ambiental
Transparência
Impacto social
Direitos humanos
Segurança do produto
É importante observar que essas métricas podem não ser aplicáveis a determinados produtos ou setores. Além disso, algumas métricas podem ter pesos diferentes dependendo do contexto, da indústria e das partes interessadas envolvidas.
O Futuro da ética na Gestão de Produtos
Ética e valores são extremamente importantes para profissionais que trabalham em qualquer setor, essa afirmativa vem de 73% dos profissionais afirmaram ao Glassdoor que levam em consideração os valores de uma organização e não se candidatariam a uma empresa que não tivesse os mesmos valores que eles.
Além disso, 82% dos trabalhadores afirmam que prefeririam receber menos e trabalhar para uma empresa com práticas comerciais éticas, em vez de receber salários mais elevados numa empresa com ética questionável.
As empresas antiéticas também perdem a preferência dos consumidores, 43% dos consumidores pararam de comprar de marcas que consideram antiéticas e 71% afirmam que consideram cuidadosamente os valores corporativos ao fazer uma compra.
O que podemos concluir?
A gestão de produtos é um campo emocionante, mas repleto de desafios éticos complexos. Product Managers desempenham um papel crucial na moldagem da tecnologia e da sociedade, como bem disse nosso querido Kewin, “a mudança precisa começar de dentro para fora”, e enfrentamos dilemas éticos e morais todos os dias, com isso precisamos estar na busca constante e na implementação de maneiras para equilibrar a inovação com a responsabilidade.
Para terminar esse texto, vou deixar aqui algumas dicas de livros que podem te ajudar:
"The Ethics of Invention: Technology and the Human Future" by Sheila Jasanoff
“Ethics 101: What Every Leader Needs To Know” by John C. Maxwell
"The Responsible Company" by Yvon Chouinard and Vincent Stanley
“Conscious Capitalism: Liberating the Heroic Spirit of Business” by John Mackey and Rajendra Sisodia
“Intentional Integrity: How Smart Companies Can Lead an Ethical Revolution” by Robert Chesnut
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Excelente texto, como sempre, Isa! Amei a reflexão, sempre muito importante manter o equilíbrio de forma responsável.