Este não é mais um texto sobre “IA”
Em meio a diversas Inteligências Artificiais, será que não estamos nos esquecendo das inteligências mais importantes?
Oi, eu sou a Isadora Pires, Senior Product Manager da Robbyson, e pela segunda vez enfrentando o desafio de estruturar uma área de produto dentro de uma empresa de tecnologia, e esse seria o tema da news de hoje, porém, semana passada eu estava no Web Summit Rio e no último dia de evento eu assisti a uma palestra do Fred Gelli e por isso eu preciso falar sobre Inteligência Artificial mais uma vez e se eu fosse você eu leria esse texto até o final.
Nessa era onde o FOMO — o temor de ficarmos para trás, dita o ritmo, a gente corre o risco de deixar nossas habilidades mais humanas de lado.
Estamos tão obcecados em não perder o trem da história que negligenciamos as habilidades que nos são intrínsecas e irrefutavelmente humanas: a intuição e a imaginação.
Não é só questão de ficar para trás tecnologicamente, mas de perder o que nos faz ser quem somos. Hoje, vamos conversar sobre como essa dependência dos algoritmos e da Inteligência Artificial pode estar nos fazendo “menos humanos”.
Hoje estamos tentando pegar um pedaço dessa porta no meio do mar e por mais que eu até hoje acredite que a morte do Jack foi em vão, se não pararmos para pensar direito um pouco e deixarmos as emoções - “estou ficando para trás” - de lado, teremos o mesmo fim.
Embora essa referência possa parecer fora de contexto, ela ilustra perfeitamente o perigo que corremos: o de nos afogarmos em um mar de inovações, sem nos agarrarmos a nenhum pedaço de madeira que nos mantenha à tona.
O desuso das competências humanas:
IA e a Desumanização
A Inteligência Artificial, com todo o seu esplendor e promessas de um futuro mais eficiente, pode, paradoxalmente, nos desumanizar, há quem diga que ela irá nos ajudar a canalizar nossas reais aptidões para que a gente não perca mais tempo com tarefas triviais ou repetitivas. Mas, sabemos como é o ser humano e por seleção, nos tornamos seres folgados.
Que tal deixar tudo para a IA?Isso acontece quando permitimos que algoritmos definam não apenas nossas escolhas, mas também nossos valores. Estamos, lentamente, cedendo o comando de nossas vidas a sistemas que, embora brilhantes, não possuem coração, nem alma, nem senso crítico, nem ética, ideologias…
Mas o que poderia acontecer de fato, quando colocamos em desuso as nossas habilidades mais refinadas?
Atrofia por desuso
Substituição Tecnológica: É aquela história: "use ou perca". Com a IA no comando de todas as nossas ações pensantes a nossa intuição e imaginação estão correndo o risco de virar história antiga e ficarmos tão acostumados a essas respostas “plastificadas” que esse será o novo padrão.
Reconfiguração Cerebral: O cérebro é esperto, não gasta energia à toa. Se a gente não exercita, ele simplesmente pára de se esforçar para tentar, como dizem: “o cérebro é o nosso músculo mais precioso e que mais precisa de ser exercitado”
Memória e Criatividade: Lembrar o número de telefone já virou coisa do passado, né? Pois é, e agora, nossa capacidade de imaginar e intuir pode ser a próxima na fila do esquecimento. Se o seu celular e computador desligarem neste momento e você precisar ligar para a sua mãe, você sabe o número do telefone dela de cor?
Quando optamos única e exclusivamente pelo uso da IA estamos deixando de lado bens valiosos como a inteligência social, o olho no olho, as interações que fazem o nosso senso crítico florescer e nos trazem insights valiosíssimos para o nosso dia-a-dia e para o nosso trabalho.
Você realmente acredita que a IA vai ter a sensibilidade necessária para manejar capital político entre stakeholders? Eu acho que não.
Você realmente acha que a IA teria senso crítico para pensar e refletir sobre uma devolutiva? Também acredito que não.
Desenvolvimento criativo? Talvez um aliado, mas não sendo a única fonte para isso.
O equilíbrio é a chave
Vamos juntos cultivar uma relação com a tecnologia onde ela nos serve, e não nos escraviza. Onde cada nova ferramenta, cada novo algoritmo é um meio, e não um fim. Devemos usar a tecnologia para ampliar nossas capacidades, não para substituir as qualidades que nos tornam humanos.
Este é um texto que faz um convite à reflexão, um convite para que você, ao ler estas palavras, considere como pode pessoalmente reivindicar seu espaço neste mundo tecnológico sem se perder nele. É um chamado para valorizar e desenvolver ainda mais aquelas habilidades que máquina alguma pode replicar — sua criatividade, sua empatia, sua capacidade de amar e de sonhar (porque não?).
Se eu fosse você, daria um passo atrás e avaliaria — realmente avaliaria — como você está permitindo que a tecnologia molde sua vida. Está realmente enriquecendo sua existência ou está, sutilmente, roubando aquilo que o faz único?
Um agradecimento muito especial ao Fred Gelli, que não me conhece e tampouco imagina o quanto os levantamentos que ele trouxe durante a sua palestra me impactaram positivamente.
Até uma próxima, com mais reflexões e, quem sabe, algumas respostas.