iFood vs Meituan: a disputa que pode redefinir o delivery no Brasil
O monopólio do iFood vai acabar?
Por mais de uma década, o iFood reinou absoluto no Brasil. Mais de 80% de market share. Centenas de cidades atendidas. Um ecossistema que vai muito além de comida: supermercado, fintech, logística própria.
Mas agora vem a Meituan.
A maior empresa de delivery da China. US$ 46 bilhões em receita anual. 30 bilhões de entregas. Uma máquina de inteligência artificial, eficiência logística e ambição global. E o próximo destino é o Brasil.
O nome da operação? Keeta.
Por que isso importa?
Porque o mercado brasileiro está num ponto crítico: bilionário, em crescimento acelerado (CAGR entre 10% e 15%) e altamente concentrado.
Enquanto isso, restaurantes reclamam das comissões de 25% a 30%, entregadores se mobilizam por melhores condições, e o CADE investiga as práticas de exclusividade do iFood.
A Meituan sabe disso. E enxerga uma brecha.
Ela não está chegando só para competir. Está chegando para transformar.
O mercado em disputa
O mercado brasileiro de delivery de comida é bilionário e ainda pouco fragmentado. As estimativas de tamanho variam entre US$ 1,29 bilhão e US$ 12,8 bilhões, dependendo da metodologia. Cresce a taxas de 10% a 15% ao ano e já representa 3,4% do mercado global.
Em 2024, o iFood detinha entre 80% e 89% do market share em MAUs. A Rappi ficava com cerca de 7%, e a 99Food prepara sua reentrada. A Meituan ainda não opera, mas sua entrada está prevista para 2025/26.
Participação de Mercado (2024)
O que a Meituan traz
Um modelo de super app com foco em recorrência e diversificação.
Eficiência logística com IA de ponta e algoritmos de despacho proprietários.
Potencial para usar drones e veículos autônomos (já testados na China).
Estratégia de entrada agressiva: comissões 15% mais baixas, subsídios pesados, foco em quick commerce.
Mas o desafio é real. Entrar num mercado como o Brasil exige adaptação cultural, construção logística do zero e navegação em uma regulação complexa.
iFood: um incumbente sob pressão
O iFood é mais que um aplicativo. Opera como uma plataforma de três lados, conecta consumidores, restaurantes e entregadores, e expandiu seu escopo para incluir:
Quick commerce (com dark stores e entregas de supermercado)
Fintech (iFood Pago, com contas digitais, crédito e CRM)
Logística própria (além de entregadores parceiros)
Essa diversificação aumenta a barreira de entrada. Mas também amplia o escopo de críticas e pressões.
Principais vulnerabilidades atuais do iFood:
Acusações de exclusividade com restaurantes (em investigação pelo CADE)
Comissões altas, com média de 25% e podendo chegar a 30%
Condições de trabalho dos entregadores (jornadas longas, baixa previsibilidade, pouco suporte)
Um estudo da Abrasel apontou que pedidos via iFood custam, em média, 17,5% a mais do que os feitos diretamente no restaurante.
Destaques financeiros e operacionais do iFood:
Meituan, prazer. A gigante que chega
A Meituan não é só uma concorrente. É uma potência global de tecnologia. Líder absoluta na China, opera como super app: além de comida, entrega supermercado, mobilidade, ingressos, viagens e muito mais.
Ela não entra em mercados pequenos. Ela entra onde há dominância, lucro e ineficiência. O Brasil atende perfeitamente a esses critérios.
A Meituan já superou a Foodpanda em Hong Kong e lançou operações na Arábia Saudita. Em ambos os casos, optou por entrar com estratégia agressiva, preço competitivo e tecnologia de ponta.
Forças da Meituan no contexto brasileiro:
Tecnologia proprietária em IA (modelo LongCat)
Algoritmos de despacho otimizados em tempo real
Potencial de automação (drones e robôs, já usados na China)
Histórico de expansão rápida e adaptação em mercados complexos
Fraquezas:
Custo de aquisição de clientes alto no Brasil
Marca ainda desconhecida localmente
Complexidade regulatória e trabalhista brasileira
Como o iFood pode reagir
Expandir o ecossistema para além do delivery (como já vem fazendo com o iFood Pago).
Reduzir ou flexibilizar os contratos de exclusividade.
Investir em fidelização e experiência.
Cortar gordura e otimizar margens para resistir à guerra de preço.
A disputa não será apenas de tecnologia ou preço. Será de execução. E principalmente, de tempo.
O que vem pela frente
A entrada da Meituan obriga o iFood a deixar a zona de conforto. Pela primeira vez, o mercado brasileiro terá uma disputa real com players capitalizados e ambiciosos.
Para o mercado como um todo, os efeitos devem incluir:
• Redução nas comissões cobradas de restaurantes.
• Mais promoções e opções para consumidores.
• Melhor remuneração (ou incentivos) para entregadores.
Mas também há riscos: guerras de preços prolongadas podem inviabilizar modelos financeiros sustentáveis, e o mercado pode se reconcentrar no médio prazo.
Três cenários possíveis:
Guerra total: preços, comissões e promoções derrubando margens de todos os lados.
Segmentação natural: cada player encontra seu nicho — iFood no mainstream, Keeta no quick commerce, 99Food em cidades menores.
Rebote monopólico: um dos novos entrantes não aguenta o tranco e o mercado volta a ser concentrado.
O que isso muda para você
Se você é restaurante, entregador ou consumidor, a concorrência é boa notícia. Com mais players no jogo, aumentam as opções, caem os custos e surgem novas funcionalidades.
Se você está do lado de quem constrói produto ou opera plataformas, essa é uma aula prática de estratégia, efeitos de rede, barreiras de entrada e execução local.
E se você é o iFood, esse é o aviso: o jogo virou.
🍵 vamos refletir…
A Meituan chega ao Brasil para disputar mais do que market share. Chega para desafiar a lógica de operação do mercado inteiro. A disputa com o iFood não será decidida apenas por tecnologia ou preço, mas pela capacidade de executar localmente, formar alianças, fidelizar consumidores e conquistar operadores.
O consumidor, ao menos por enquanto, deve sair ganhando. Mas para quem está no tabuleiro da estratégia, o jogo está prestes a ficar muito mais complexo.
Se você é produto, tecnologia, operações ou growth: acompanhe. Esse vai ser o case do ano.
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