Impacto das Apostas Esportivas na Vida Financeira das Famílias Carentes
Não é só o Tigrinho e é pior do que você imagina!
Não é só o Tigrinho e é pior do que você imagina! O Itaú essa semana por meio de um estudo apontou que os brasileiros gastaram R$ 68,2 bilhões em apostas em 12 meses.
Com a legalização das apostas esportivas online em vários estados dos Estados Unidos, um fenômeno preocupante tem sido observado: o impacto negativo nas finanças de famílias carentes. Baseado no estudo "Gambling Away Stability: Sports Betting’s Impact on Vulnerable Households", é possível identificar como essa prática, inicialmente vista como um entretenimento, tem se tornado uma fonte de instabilidade financeira para muitas famílias.
Coincidentemente aqui no Brasil estamos passando pela fase da legalização das apostas, até o tigrinho foi legalizado.

A Legalização das Apostas Esportivas e Seus Efeitos
Desde que a Suprema Corte dos EUA derrubou a proibição federal das apostas esportivas em 2018, diversos estados rapidamente legalizaram essa atividade. O resultado foi um aumento significativo nas apostas, com mais de $120 bilhões apostados e $11 bilhões em receitas apenas em 2023. Este crescimento não substituiu outras atividades de consumo, mas resultou em uma diminuição acentuada na alocação de poupanças das famílias, especialmente entre aquelas com restrições financeiras. O estudo revela que as apostas de valor esperado negativo frequentemente substituem investimentos de valor esperado positivo, como ações, aumentando as dificuldades financeiras das famílias já pressionadas.
O Perigo das Apostas para Famílias Carentes
O estudo destaca que, após a legalização das apostas esportivas online, famílias financeiramente carentes aumentam significativamente suas apostas, levando a um aumento na dívida de cartão de crédito e a uma redução na disponibilidade de crédito. Além disso, essas famílias apresentam um aumento na frequência de cheques sem fundos. Esses achados sugerem que as apostas esportivas online pioram as dificuldades financeiras dessas famílias, que já enfrentam menos flexibilidade em suas finanças.
A legalização das apostas não apenas impulsionou as apostas online, mas também impactou negativamente os investimentos financeiros dessas famílias. Por exemplo, as famílias que começaram a apostar online reduziram suas alocações de capital em corretoras tradicionais, preferindo investir em atividades de risco como apostas esportivas, que apresentam um retorno esperado negativo. O estudo estima que cada dólar gasto em apostas esportivas reduz em mais de dois dólares os investimentos em ações, evidenciando um efeito de substituição prejudicial.
Reflexões e Implicações
Para gerentes de produto, sobretudo no setor financeiro, os resultados deste estudo trazem lições importantes sobre o impacto das inovações regulamentares no comportamento financeiro dos consumidores. As apostas esportivas, embora possam parecer uma oportunidade para novas receitas, estão claramente agravando as dificuldades financeiras das famílias carentes. Isso levanta a questão: como as instituições financeiras podem criar produtos que ofereçam entretenimento sem comprometer a estabilidade financeira das pessoas?
Outra reflexão relevante é sobre o papel das empresas na educação financeira dos seus clientes. Em um mercado onde as apostas esportivas se tornam cada vez mais acessíveis, há uma responsabilidade crescente em garantir que os consumidores entendam os riscos e as implicações de suas decisões financeiras.
O impacto da legalização das apostas esportivas sobre a saúde financeira das famílias carentes é um alerta para a indústria financeira e para os responsáveis por políticas públicas. Embora as apostas esportivas possam gerar novas receitas, é crucial que se avaliem as implicações a longo prazo para a estabilidade financeira das famílias, especialmente as mais carentes. É necessário um equilíbrio entre permitir que o entretenimento cresça e garantir que isso não aconteça às custas da segurança financeira das pessoas.

Gerentes de produto, novamente, especialmente aqueles que atuam em mercados regulamentados, devem considerar como seus produtos podem influenciar os comportamentos financeiros dos consumidores e, potencialmente, agravar situações de vulnerabilidade financeira. Este estudo destaca a importância de desenvolver produtos financeiros que promovam práticas de consumo responsáveis e que ajudem a mitigar os riscos associados a novas formas de entretenimento financeiro.
Qual a sua opinião sobre o assunto?
Acesse o estudo aqui: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=4881086
bet é o novo truco.
Eu vi alguns dados que me escandalizaram. Até 2017 o Brasil sequer figurava no topo dos países com gasto em apostas. Porém, quando há a regulamentação no final do governo Temer e com o início do governo seguinte a escalada do país é surreal.
Senti que o texto foi morno ao fazer as comparações EUA vs BRASIL, sendo que os EUA figurou por anos no topo e agora desceu algumas casas (em 2023 ele estava em quinto país). O Brasil é o topo com quase 2x mais despesas em apostas do que o segundo colocado (Reino Unido). O pior de tudo é ver o efeito prático desse mercado recém-regulado, mas pouquíssimo debatido.
Num país com baixo letramento e com baixa educação financeira as promessas de "ganhos altos" com "baixo esforço" se torna porta de entrada para grandes esquemas, inclusive fraudulentos. Numa época de pós-verdade e deepfakes, as linhas se tornam tênues e várias "bets" são criadas dia após dia, fora os famosos jogos de apostas online como o "Tigrinho" que são dois fenômenos distintos, mas parecidos (comparando com as apostas esportivas).
Entendi o chamamento do texto, mas acho que ele é mais incisivo. Àqueles PMs que trabalham nessas empresas há um conflito ético direto, afinal, você contribui para essa "máquina de moer" grana e gente, destruindo o poder de compra e, em maior plano, famílias e seres humanos. Infelizmente, no ponto em que está não tem solução fácil ou bala de prata. Mas algo precisa ser feito, a várias mãos.