Liderança de produto na prática: O que aprendemos com a RecargaPay no RIW
No segundo dia de Rio Innovation Week, um evento movido a hype e promessas de futuro, o Product Gurus buscou mais sobre estratégia e a execução por trás dos produtos que vencem no mundo real.
Com à nossa parceria com a RecargaPay, tivemos acesso privilegiado a dois painéis que, juntos, formam um estudo de caso completo sobre como construir uma das maiores plataformas financeiras do Brasil.
De um lado, a visão sem filtros do co-fundador sobre o "empreendedorismo real". Do outro, a aula de estratégia de produto em um painel com o Banco Central e o Google.
Conectamos os pontos para entregar a você o playbook completo da RecargaPay, da filosofia à prática.
A filosofia do "Empreendedorismo Real" com Gustavo Victorica
Enquanto muitos palcos discutiam o futuro, no keynote de Gustavo Victorica, COO & Co-Fundador da RecargaPay, a mensagem foi um antídoto: a verdadeira inovação é feita de escolhas difíceis, pouco glamour e resiliência. Em "Empreendedorismo real: decodificando - e desmitificando - inovações nos pagamentos", Gustavo abriu o playbook que levou a empresa a um EBITDA positivo e 10 milhões de clientes.
Analisamos os takeaways e traduzimos para o nosso dia a dia de produto.
1. Cace problemas grandes e "Sem Glamour"
A tese de Gustavo é que as melhores oportunidades estão escondidas em problemas que ninguém quer resolver.
"Problemas grandes, sem glamour são (em geral) os melhores para crescer."
É a lição de priorizar a correção de um fluxo de pagamento complexo em vez de um novo feature com UI brilhante. O primeiro blinda a retenção; o segundo, muitas vezes, apenas alimenta a vaidade.
2. O instinto define a hipótese, os dados validam o caminho
Gustavo trouxe de volta o valor da intuição como ponto de partida.
"Confie no seu instinto! E se tiver dados, ainda melhor!"
Esta é a essência do discovery. O instinto gera a hipótese; os dados testam se ela está correta. É preciso combinar os dois para inovar de verdade.
3. Foco obsessivo no "Quem" e no "Porquê"
Antes do "o quê", a clareza sobre o problema e o público é o que separa o sucesso do fracasso.
"Foco total no problema que você está resolvendo. E para quem."
É o mantra contra "feature factories". Sem uma resposta inabalável para "para quem?" e "qual dor?", seu time apenas entrega outputs, sem gerar os outcomes que o negócio precisa.
4. O time certo é um multiplicador inegociável
Nenhuma estratégia sobrevive a um time mediano.
"Não existem regras para empreender, mas TIME/TALENTO e AI são inegociáveis."
Seu papel é criar um ambiente de clareza e propósito que atraia e retenha os melhores. Um roadmap medíocre com um time brilhante pode virar ouro. O inverso nunca acontece.
A filosofia de Gustavo é poderosa, mas como ela se traduz quando o jogo envolve reguladores e big techs? A resposta veio em outro painel.
Anatomia da Inovação: O Papel-Chave do Produto na Revolução dos Pagamentos
Nesta quarta-feira, um dos painéis mais densos do Rio Innovation Week, que acompanhamos a convite da nossa parceira RecargaPay, reuniu os arquitetos da maior revolução financeira do Brasil.
Em "Decifrando Pagamentos Instantâneos", sentaram-se lado a lado o Banco Central, o Google e a RecargaPay.
Painel com Gilmar Hansen (RecargaPay), Breno Lobo (BC) e Natacha Litvinov (Google)
Para qualquer líder de produto, a configuração era um estudo de caso ao vivo. De um lado, Breno Lobo, do Banco Central, que revelou a diretriz central do projeto: "O principal fator [para o sucesso com os consumidores] foi a determinação do Banco Central para fazer com que esse meio de pagamento eletrônico fosse gratuito, [...] o mais próximo possível do dinheiro em espécie."
Do outro lado, o Google, representando a infraestrutura tecnológica global. E no centro, Gilmar Valerio Hansen, Vice-Presidente Sênior de Produtos da RecargaPay, personificando quem tem a missão de transformar regulação e tecnologia em um produto de sucesso. A participação de Gilmar foi crucial, pois ele representa o "como" por trás da estratégia.
Da Regulação Complexa à Experiência Simples
A primeira e mais crítica função de um líder de produto como Gilmar é a de ser um "tradutor". O seu desafio não era apenas técnico, mas principalmente de empatia: como pegar centenas de páginas de normas e transformar tudo em um único botão que um usuário entenda e confie?
A importância de Gilmar no painel foi deixar claro que a inovação não estava apenas na criação do sistema, mas na habilidade de seus players em remover a complexidade da frente do cliente.
Criando valor em um ecossistema gratuito
A diretriz do Banco Central de tornar o Pix gratuito para pessoas físicas, embora genial para a adoção, criou um desafio estratégico monumental para o setor privado.
Se a transação principal é uma commodity sem receita direta, como se constrói um negócio sustentável? É aqui que o papel de Gilmar como estrategista se torna ainda mais vital.
Sua missão não é apenas fazer a transação funcionar, mas liderar o time de produto para construir um ecossistema de valor agregado ao redor do Pix.
A monetização não vem do "enviar dinheiro", mas dos serviços que orbitam essa funcionalidade: o pagamento de contas, a recarga de celular, a oferta de crédito, os benefícios de uma assinatura Prime.
Gilmar representa a liderança que precisa encontrar a rentabilidade na periferia da funcionalidade principal, um dos maiores desafios da gestão de produtos moderna.
Preparando o Time para a Revolução
A revolução dos pagamentos instantâneos foi um sprint de altíssima velocidade.
O terceiro papel vital de Gilmar foi o de líder interno, garantindo que os times de produto, engenharia e design da RecargaPay não apenas entendessem o "o quê", mas o "porquê" dessa transformação.
Sua importância é a de catalisar a organização, garantindo que a visão macro se desdobre em OKRs claros, backlogs priorizados e um time motivado para entregar com a escala e a segurança necessárias.
Vamos refletir…
A presença da RecargaPay no Rio Innovation Week, através de Gustavo e Gilmar, nos deu um ensinamento completo.
Uma liderança de produto de excelência é essencial para o sucesso de qualquer grande estratégia. É o líder de produto que absorve a filosofia do negócio, traduz a regulação, negocia com as plataformas e inspira um time a construir algo que as pessoas amem.
A grande inovação brasileira que o mundo admira é o resultado de milhares de pequenas e difíceis decisões de produto.
Q&A do PG com a RecargaPay
A análise das palestras nos deu um roteiro, mas para líderes de produto, entender a filosofia é apenas o começo.
Por isso, fomos além. Aproveitando nossa parceria com a RecargaPay, elaboramos perguntas para conectar a visão dos líderes com os desafios práticos que todos nós enfrentamos.
3 Perguntas para Gustavo Victorica (COO & Co-Fundador)
PG: Qual é a habilidade menos óbvia que vocês procuram em um líder de produto ou de engenharia para crescer dentro da RecargaPay?
Gustavo: Ó, acho que, um pouco a menos óbvia, mas que é um intangível difícil de achar, é realmente a vontade de fazer a coisa acontecer, né? Porque muitas vezes, e à medida que uma empresa vai crescendo, que tem diferentes projetos, acho que é fácil se perder e perder o foco.
Mas quando você realmente, e mais em produto e tecnologia, se você acredita naquele negócio, você tem aquela força, aquele tesão para fazer acontecer, isso realmente é um... Porque é muito fácil fazer uma primeira iteração, ver o produto funcionando e deixar e passar pro próximo, porque geralmente tem mais glamour, é mais sexy, produto novo.
Mas continuar iterando, iterando, iterando pra fazer aquele negócio realmente decolar e crescer, é um, é um superpoder.
PG: Você pode compartilhar um momento em que o seu instinto de negócio apontava para uma direção, mas os dados inicialmente falaram ‘cara, não é isso’, ou o time técnico mostrava o contrário? E como você navegou nessa tensão?
Gustavo: Difícil. Deixa eu pensar. Então, não, acho que o caso interessante que a gente sempre conta, mas é, é um pouco das duas coisas. Então, a gente lançou nosso primeiro aplicativo mobile no ano de 2013.
Naquela época, ainda a web era muito grande. E a gente teve que tomar uma decisão. O que que eu faço? 99% do meu negócio ainda é web. Continuo investindo nele ou não?
Mas aí, acho que a intuição foi: "não, temos que ir pelo mobile". E os dados, a gente, com um mês de dados, é mobile, é 100% mobile. E é basicamente tudo que a gente fez por anos, não é jogar no lixo, mas deixa aí, não investe em nada porque é tudo por aqui.
Então, muitas vezes, essa questão de ter esse bom senso e tomada de risco, de com muita pouca data, com dados muito incipientes, tomar uma decisão pro futuro, que foi nesse caso, a investir no mobile e ser 100% plataforma mobile.
E agora estamos num momento parecido com AI, né? De é por aí. Como eu comentei na minha, no meu painel, é a questão de, com o padrão operacional.
Porque AI tem de tudo, né? Você pode fazer qualquer coisa com AI, mas eu, particularmente, com as minhas equipes, tô investindo muito na, de como que eu defino processos pensando em AI.
PG: Como que você vê essa evolução do papel de um líder, principalmente nesse desafio de fazer as perguntas certas para a inteligência artificial ou gerar essa complexidade humana que nenhuma IA resolve?
Gustavo: Ó, acho que primeiro, tem que ter curiosidade. Se você não tem, se você não gosta de testar coisa nova, vai ser difícil.
Porque a realidade não é, parece mágica, mas não é. Então, geralmente, se você vai: "ah, resolve esse problema para mim", não vai resolver. Realmente tem que... às vezes falo, eu brinco até em casa com a minha esposa, eu falo mais com o meu AI do que com a minha esposa e minha psicóloga. Mas por quê? Porque o contexto é relevante.
É realmente a questão de, quanto mais informação, quanto mais dados tá, quanto mais você investe naquilo, melhor é o resultado. Então, acho que do ponto de vista de liderança, é entender que não é mágica, mas que quanto mais contexto dá, melhor o resultado. Igual com pessoas, né?
Quanto mais contexto se dá para uma pessoa de qual problema resolver, porquê das coisas, melhor vai ser o resultado, né?
3 Perguntas para Gilmar Valerio Hansen (VP Sênior de Produtos)
PG: Quando a dor primária do pagamento é resolvida por um sistema nacional como o PIX, como você redefine a missão do seu time? Qual é a nova "dor de um bilhão de dólares" que você inspira sua galera a resolver para manter a motivação?
Gilmar: Eu acho que assim, na RecargaPay, a gente tem uma filosofia de produto muito relacionada a impacto e esforço, né?
Então o que a gente tenta colocar na cabeça das pessoas, que elas precisam entender, pesquisar, é, vender o impacto daquilo que a gente vai fazer, né? Depois do PIX, né, como é que é o mundo depois do PIX? É, dentro das tribos que eu lidero, dentro das tribos de pagamento, existe muito de você acoplar o PIX a outros meios, né? Diversificar o uso dele, expandir.
A gente fala assim: "Ah, chegou em todo mundo?" Não, ainda não. Ainda tem gente que ainda não sabe como usar, a melhor maneira de usar. Se eu posso usar com cartão de crédito, se eu posso usar com empréstimo.
Então como é que a gente evolui a própria interface, ou aquilo que a gente ensina, e a UX é ensinar o usuário a saber fazer aquilo que a gente entende que agrega valor, né? Na combinação das todas as funcionalidades que a gente tem, né?
A RecargaPay evoluiu muito de algumas funcionalidades para um ecossistema completo. Então agora a visão, né, o jogo agora é um pouco maior de saber entender como potencializar o ecossistema em si e cruzar essas funcionalidades.
PG: Com o Brasil sendo um case global em pagamento instantâneo, qual é a sua visão para a próxima onda de inovação desses produtos, principalmente usando IA e Open Finance?
GILMAR: Olha, a gente vê na RecargaPay a potencialização do Open Finance andando lado a lado com o PIX. Eu mencionei os casos de você fazer um onboarding começando já pelo Open Finance, a gente conhecendo aquele consumidor muito mais do que apenas uma selfie que ele faz no onboarding, né? Então eu consigo acelerar a confiança.
O sistema financeiro, ele é um relacionamento com o consumidor. Quanto mais esse relacionamento, ele é encurtado para que eu possa oferecer melhores condições, melhores taxas, serviços mais personalizados, esse é o real ganho de valor.
Ninguém mais está esperando eu entrar numa instituição e daqui a três meses ela poder me ofertar alguma coisa. Então acho que o jogo é muito nessa questão de encurtar esse relacionamento com o nosso cliente.
PG: Se todos os players oferecem a funcionalidade básica do PIX, a competição se desloca para o UX. Onde a RecargaPay decidiu focar seus esforços para se diferenciar? Foi na velocidade, na criação do ecossistema, na construção da marca?
Gilmar: É tudo. É tudo, você não pode deixar nada para trás, né? A interface, claro que é um diferencial. O PIX para nós, desde o dia um, né, outubro de 2020, o nosso checkout, na sua interface, já permitia combinar um empréstimo ou um cartão com o PIX.
Eu não tinha que fazer duas ações, eu fazia uma só. Esse foi o grande diferencial da RecargaPay por muito tempo. Então a combinação de eu potencializar esses usuários que trouxeram, souberam utilizar essa funcionalidade, com os novos serviços, né, fortalece um ecossistema como um todo.
Essa junção, não tem nada que você possa deixar para trás e dizer que é marca menos importante, ou UX menos importante, a funcionalidade. Claro, sempre provando através de uma análise impacto-esforço que faz sentido para o nosso consumidor, para o nosso posicionamento.
Talvez eu investir hoje em cripto, ainda não faça sentido, mas talvez daqui a pouco eu permitir fazer um PIX internacional juntando o PIX com stablecoins, então faz. Então é saber tropicalizar, adaptar as oportunidades que o mercado oferece, as funcionalidades que já estão disponíveis, para aquilo que o teu consumidor vai valorizar.