Não é sobre pornografia. É sobre estratégia!
O OnlyFans como estudo de caso sobre dependência de nicho e bloqueios de crescimento.
Enquanto boa parte da economia dos criadores busca validação, o OnlyFans já lucra como uma Big Tech. Mas a mesma força que o fez crescer, o conteúdo adulto, agora freia sua expansão. Este é um artigo sobre limites, escala e a tensão entre reputação e rentabilidade.
O paradoxo da plataforma que mais lucra e menos atrai
O OnlyFans se tornou um dos maiores fenômenos da creator economy sem depender de publicidade, comissionando 20% de todo o valor movimentado por seus criadores, principalmente adultos.
O resultado? Uma máquina de lucratividade com $6,6 bilhões em transações em 2023 e $1,3 bilhão em receita direta, operando com uma estrutura radicalmente enxuta.
Mas há um preço.
Apesar da lucratividade obscena, o estigma do conteúdo adulto impede a empresa de fechar parcerias com marcas tradicionais, anunciar em canais relevantes e ser adquirida por compradores institucionais.
A discussão sobre sua avaliação real gira entre os extremos de $2 bilhões a $8 bilhões.
Não é um dilema moral. É estratégico.
O que sustenta o crescimento é o mesmo o impede
O modelo 80/20 da plataforma (criadores ficam com 80%, a empresa com 20%) cria um incentivo poderoso para atrair quem busca independência financeira. Mas essa mesma atratividade, em especial para criadores de conteúdo adulto, formou um muro reputacional difícil de escalar.
Ao mesmo tempo, a eficiência extrema do modelo operacional (com menos de 50 pessoas na equipe central) e a ausência de intermediação por app stores aumentam a margem de lucro, criando um negócio difícil de replicar.
O desafio, então, é duplo:
Como sustentar o hiper-lucro sem atrair apenas criadores de conteúdo adulto?
Como se tornar uma plataforma de tecnologia mainstream sem rejeitar o motor que a alimenta?
Como o OnlyFans construiu um motor de escala radical
Modelo de receita escalável e direto
O OnlyFans não monetiza atenção. Monetiza desejo. Com isso, dribla a lógica da economia da atenção e depende diretamente da disposição dos fãs em pagar para se conectar com seus criadores favoritos. Isso gerou números como:
Além das assinaturas mensais, o crescimento recente foi puxado por compras avulsas: conteúdos PPV, gorjetas e transmissões ao vivo representaram quase 60% da receita total em 2023. Isso aumenta o ticket médio por usuário e aprofunda o relacionamento entre fã e criador.
Operação ultraleve, margem gigante
Apenas 42 pessoas tocavam a operação central em 2023. Isso significa:
$31 milhões em receita líquida por funcionário
$15,5 milhões em lucro por funcionário
A maior parte do trabalho pesado (moderação, suporte, conteúdo) é terceirizada ou automatizada. Criadores produzem o conteúdo. Fãs pagam. A plataforma fica no meio com um modelo de comissão simples e escalável.
Marketing descentralizado: cada criador como máquina de aquisição
O OnlyFans não investe em mídia tradicional. Quem traz tráfego são os próprios criadores, usando Twitter (X), Reddit, Instagram e TikTok para distribuir teasers e atrair fãs para suas páginas pagas.
Esse modelo vira um growth loop:
Criador entra
Ganha dinheiro
Promove seu canal
Atrai novos fãs
A plataforma cresce
O boca-a-boca turbinado por desejo funciona melhor que qualquer campanha institucional.
Lucro alto, reputação baixa
Apesar do sucesso financeiro, a concentração de renda entre poucos criadores é brutal. Os top 0,1% ganham até 100 vezes mais do que o top 10%. Isso gera um funil de frustração: muitos entram, poucos prosperam, a maioria desiste.
Além disso, a dependência do conteúdo adulto expõe a plataforma a riscos regulatórios, como:
Múltiplas denúncias de uso indevido por menores
Ações sobre “chatters” (bots ou pessoas que se passam por criadores para enganar fãs)
Multa de £1 milhão por falhas na política de verificação de idade
Essas controvérsias minam a credibilidade da plataforma como alternativa mainstream a Patreon ou Substack, apesar de sua tentativa de se posicionar como tal com a OFTV, um spin-off de conteúdo seguro para o trabalho.
☕️Vamos refletir…
O caso OnlyFans escancara uma verdade brutal: nem sempre o crescimento financeiro resolve os dilemas estratégicos.
Alguns aprendizados que você pode aplicar:
Modelo enxuto e direto ao ponto vence em eficiência, mas exige mecanismos claros de confiança e regulação.
Marketing pode ser 100% descentralizado se os incentivos forem bem construídos, criadores viram promotores naturais.
Reputação limita valuation: empresas de nicho com forte estigma enfrentam dificuldade de captação, parcerias e saída.
Diversificar exige mais do que abrir novas categorias. É preciso transformar a percepção pública. E isso leva tempo, dinheiro e consistência.
O OnlyFans é um espelho ampliado do paradoxo da creator economy: todos querem liberdade para criar e monetizar, mas poucos estão prontos para os efeitos colaterais de um modelo radicalmente direto.
Boa reflexão! Doido pensar que parte significativa do valuation do cara cai por uma "abstração moral". Fico pensando: com esses números, pq eles não aceitam e aceleram o OF pra conteúdo adulto e tentam criar uma coisa nova no caminho que eles querem? Agora já tem grana, aprendizado, rede, tecnologia...
Interessante não tinha pensado em alguns pontos de vista colocado aqui. Valeu!