O colapso do vibe coding
Durante 2024 e início de 2025, o mercado de vibe coding parecia imbatível. Plataformas como Lovable, Replit, Bolt e v0 da Vercel surfaram o entusiasmo de uma geração que acreditava poder construir qualquer produto apenas com prompts. A promessa era simples e poderosa: IA gerando aplicativos completos em minutos, fundadores não técnicos lançando startups, designers virando builders. Mas, como todo ciclo de hype, a euforia encontrou o ponto de correção.
Entre junho e setembro de 2025, todas as principais plataformas do setor sofreram quedas expressivas de tráfego.
Entre junho e setembro de 2025, o acesso às principais plataformas despencou. Lovable caiu de 21,2 milhões para 19,1 milhões de visitas (-10,1%), Replit perdeu 21,5%, Bolt recuou 11,9% e o v0 da Vercel chegou a colapsar 60% após mudar seu modelo de preços. O problema não é falta de interesse por IA.
É a distância entre promessa e experiência real.
A Lovable, avaliada em cerca de US$ 1 bilhão e capitalizada em US$ 200 milhões, nasceu para democratizar o desenvolvimento. Em setembro de 2025, porém, substituiu o modelo simples de assinatura por uma cobrança “baseada na complexidade da mensagem”. O resultado foi o que os usuários chamaram de credit anxiety: medo constante de gastar créditos antes de ver algo funcionar.
O plano gratuito oferece 5 créditos por dia, o Pro, de US$ 25 mensais, fornece 100 créditos. Cada tentativa, mesmo quando o erro é da própria IA, consome saldo. Um usuário relatou gastar US$ 5 para corrigir uma única conexão de API. O que deveria incentivar experimentação passou a punir a criatividade.
Essa mudança criou uma contradição central. O valor do vibe coding está na iteração livre e no erro como parte do processo. Ao cobrar por tentativa, a Lovable transformou curiosidade em custo. O que era fluxo virou contenção. Usuários passaram a economizar prompts e, com isso, reduziram o próprio engajamento que sustentava o produto.
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A Replit seguiu outro caminho. Apesar da queda de 21,5 % no tráfego, seu valuation triplicou para US$ 3 bilhões, e o ARR saltou de US$ 16 milhões no fim de 2024 para cerca de US$ 150 milhões em meados de 2025. A empresa abandonou estudantes e amadores e passou a mirar equipes corporativas, eliminando recursos gratuitos e adotando o modelo Effort-Based Pricing. Trocou volume por margem.
O preço foi alto em reputação. Usuários relataram contas que subiram de US$ 200 para US$ 1 000 por semana, acusando a empresa de “cash grab”. Logo depois veio o episódio que expôs os limites da automação: o Ghostwriter Incident, quando o agente de IA ignorou um code freeze, apagou um banco de dados de produção e criou 4 000 registros falsos para ocultar o erro. O CEO pediu desculpas públicas. A empresa sobreviveu, mas a confiança na autonomia total da IA ficou abalada.
A Vercel, por sua vez, transformou o colapso em reposicionamento. Depois de perder mais de 70% de tráfego ao adotar um modelo baseado em uso, a empresa rebatizou o produto para v0.app, lançou o Marketplace v0 e integrou parceiros como Supabase, Neon e Upstash. Essa simples virada de ferramenta isolada para ecossistema de construção, gerou tração imediata e garantiu uma nova rodada de US$ 300 milhões a um valuation de US$ 9,3 bilhões.
Segundo o Stack Overflow Developer Survey 2025, 84 % dos desenvolvedores já usam ou planejam usar IA no trabalho, mas 46 % ainda desconfiam da precisão do código gerado. Essa desconfiança reforça o modelo assistivo: produtividade ampliada sem perda de controle.
Do outro lado, as plataformas agênticas seguem a maré. A Emergent conquistou 1,5 milhão de usuários, gerou 2 milhões de aplicativos e atingiu US$ 15 milhões de ARR em apenas 90 dias, impulsionada por uma rodada Série A de US$ 23 milhões liderada pela Y Combinator e Lightspeed. A narrativa é familiar: crescimento vertiginoso, monetização frágil e ansiedade por créditos. A história tende a se repetir.
Além das tensões internas, há um fator macro decisivo. Entre julho e agosto de 2025, o tráfego vindo de Google e ChatGPT caiu mais de 50 %. Com as novas respostas diretas, os usuários obtêm resultados sem clicar em sites externos.
Essa mudança eliminou o canal de aquisição orgânica que sustentava Lovable, Replit e Bolt. O que antes era crescimento gratuito tornou-se dependência de mídia paga. É como perder a vitrine no shopping e ainda pagar mais caro pelo aluguel.
O que vem depois do hype
Três caminhos se desenham para a Lovable — e, por extensão, para todo o setor:
Replit Play: focar em enterprise, com preços altos e features corporativas de segurança e compliance.
Vercel Play: construir um ecossistema de integrações e marketplace para aumentar retenção e valor em rede.
Emergent Play: dobrar a aposta no discurso “agente autônomo” e tentar recapturar o hype com marketing agressivo.
Nenhum é isento de risco. O grande desafio é o alinhamento estratégico entre valor de produto e modelo de negócio. Cobrar pelo erro desincentiva o uso. Automatizar demais mina a confiança.
O hype acabou. O que começa agora é a seleção natural dos produtos que entregam valor contínuo, previsível e confiável, em vez de apenas vender a promessa da magia.
Uma análise complementar é o do Chamath Palihapitiya, que compartilhou o seguinte no Twitter:
Aqui estão dois gráficos muito importantes sobre o atual boom da IA. Gráfico 1: A distribuição importa A Open AI ainda é a líder absoluta, mas, curiosamente, está perdendo participação percentual à medida que o mercado cresce. Isso é normal para uma líder de categoria, mas é curioso para quem ela está perdendo participação. Não é exatamente para outras startups, mas para empresas tradicionais com distribuição massiva existente. Isso significa que o Google tem um enorme caminho pela frente à medida que seus modelos e serviços se aprimoram. Isso também significa que, quando/se a Meta se organizar, poderá ganhar participação rapidamente. Por fim, provavelmente significa que a xAI precisará licenciar a Grok agressivamente OU adquirir a distribuição existente para seus modelos – Snapchat, Pinterest etc. Gráfico 2: Agentes de codificação são destruidores de aplicativos desleixados Deve ser preocupante que essa categoria esteja diminuindo. Acho que o motivo é óbvio, mas não temos permissão para falar sobre isso. O motivo é que a codificação de vibração é uma piada. Isso é profundamente pouco sério e essas ferramentas não funcionam quando encontram complexidade do mundo real (criar demonstrações rápidas não é complexo) em nenhum empreendimento significativo. Por isso, as pessoas tentam, pagam, mudam. Essa tendência não é boa.






É lógico que plataformas ancoradas onde qualquer um pode construir com pouco ou nenhum contexto estarão com números de usuários inflados. Eu estou totalmente no caminho contrário: revolucionando a produção de código com agentes, criando o contexto e guardrails para garantir um código escalável de dar orgulho(ou inveja) aos mais engenheiros seniors e não conheço um engenheiro até hoje que não se surpreende ao utilizar o workflow que criei. Utilizar Vercel, Lovable ou Replit é o mesmo que se apaixonar por um framework. Estou criando o que acredito, com o melhor do que a engenharia pode prover.