Esse texto é resultado de uma indicação de livro feita pela Marina Tonello, que me indicou o livro Sociedade do Cansaço do autor Byung-Chul Han.
A maior armadilha da produtividade moderna não é a falta de tempo. Tampouco é a sobrecarga de tarefas. O que realmente nos aprisiona é algo mais sutil: o excesso de liberdade.
Byung-Chul Han, em Sociedade do Cansaço, explica que já não vivemos em um regime disciplinar rígido, marcado por regras e proibições externas. O que nos move agora é uma sociedade de desempenho, onde a ordem não é “não pode”, mas “pode sempre mais”. Essa mudança de lógica é silenciosa, mas devastadora.
O resultado é que já não precisamos de um chefe gritando ordens. Viramos o nosso próprio chefe. A pressão não vem de fora, ela é autoimposta e camuflada de metas, métricas e da crença no nosso “potencial infinito”. É por isso que o burnout raramente nasce da falta de energia, e quase sempre da incapacidade de dizer basta.
Esse paradoxo do “poder fazer tudo” cobra caro. Quanto mais possibilidades temos diante de nós, mais nos culpamos por não realizar todas. É a positividade sem freio que desgasta mais do que qualquer repressão. Han chama isso de excesso de positividade, e acerta ao dizer que ele cansa mais do que a proibição.
No trabalho, essa lógica se traduz em listas de projetos que nunca acabam, em reuniões que parecem obrigatórias, em métricas que se multiplicam sem clareza de propósito. Na vida pessoal, aparece como aquela sensação de estar sempre atrasado, mesmo quando o dia foi cheio de conquistas.
É por isso que clareza sobre o que não fazer se torna tão estratégica quanto disciplina para executar. Negar caminhos, abandonar ideias e criar limites não é fraqueza, é autocuidado produtivo. Se você não define seus próprios limites, alguém, ou algo, vai defini-los por você.
A pergunta que fica é simples, mas desconfortável: quando foi a última vez que você disse “não” a algo e se sentiu aliviado por isso? Essa escolha pode ser o verdadeiro ato de liberdade na sociedade do cansaço.