O que o Premiere fez pra acabar com o delay
A engenharia por trás da menor latência do Premiere no Globoplay.
A promessa era ousada: acabar com o delay no streaming de futebol.
Antes mesmo de a bola rolar no Brasileirão 2025, a Globo anunciou que o Premiere no Globoplay teria uma latência tão baixa que deixaria para trás o incômodo “gol do vizinho”, aquela comemoração antecipada que chega primeiro pela TV aberta, depois pelo cabo, e por último no streaming. O plano era simples no discurso e complexo na execução: aproximar o tempo real da tela do torcedor ao tempo real do campo.
Mas como isso foi feito? E o mais importante: funcionou mesmo?
Por que streaming tem delay?
Antes de falar da solução, vale entender a raiz do problema.
A transmissão de vídeo ao vivo pela internet é uma cadeia longa, e cada elo introduz um pequeno atraso:
O sinal é captado no estádio
Enviado ao centro de produção
Codificado e empacotado em segmentos
Distribuído por servidores da CDN
Transportado pela internet
Armazenado no buffer do player
Só então, exibido na tela
E o que mais pesa nessa conta?
Duração dos segmentos de vídeo (normalmente entre 6 a 10s)
Tempo de propagação na CDN
Políticas de buffer do aplicativo (que priorizam estabilidade e não velocidade)
Por isso, enquanto a TV aberta pode ter apenas 2 ou 3 segundos de atraso, o streaming tradicional acumula entre 20s a mais de 1 minuto. Só otimizar um pedaço da cadeia não basta. É preciso reestruturar tudo, da codificação ao player.
O que a Globo fez: uma abordagem em três frentes
A redução real da latência no Premiere foi possível porque a Globo mexeu nas três camadas principais do streaming: infraestrutura, protocolo e player.
1. Expansão e refinamento da CDN
Mais servidores de cache (PoPs) foram espalhados pelo Brasil, próximos aos usuários e até dentro dos ISPs. Isso reduziu o tempo de entrega dos dados. A Globo também investiu em rotas mais curtas e melhor peering com operadoras, essencial para não ter travamento mesmo nos horários de pico.
2. Adoção de protocolos de baixa latência
A Globo provavelmente implementou dois formatos modernos:
LL-HLS (Low Latency HLS)
LL-CMAF (Low Latency CMAF)
Ambos permitem dividir os segmentos em micro-chunks (frações de segundo), transmitidos em tempo real. Em vez de esperar um segmento inteiro ser finalizado, o player começa a exibir o conteúdo assim que os primeiros pedaços chegam.
3. Atualização dos players
Nada disso funcionaria sem mudar o aplicativo do Globoplay. Os apps (TV, web, mobile) foram adaptados para:
Aceitar playlists dinâmicas
Reduzir drasticamente o tamanho do buffer
Reagir mais rapidamente a novos chunks transmitidos
Essa mudança tem custo: buffers menores tornam a conexão mais sensível a variações de internet. Mas é o preço a pagar por menos atraso.
E funcionou?
Sim, mas com um asterisco.
Testes independentes mostraram que o Premiere no Globoplay conseguiu:
Ser mais rápido que a TV a cabo em 3 das 4 plataformas testadas
(em alguns casos, até 2s à frente).Reduzir o delay para apenas 4 segundos em relação à TV aberta digital (em condições ideais).
Ou seja: para boa parte dos torcedores, o delay realmente “sumiu”.
Mas é preciso relativizar.
A TV aberta ainda é a mais rápida possível.
O delay pode variar de acordo com a conexão de internet, dispositivo, e região.
E essa otimização foi feita somente para o canal Premiere no Globoplay. A mesma plataforma ainda apresenta mais de 20 segundos de atraso em outros canais da Globo.
O que isso nos diz sobre streaming em 2025
A redução de latência do Premiere não é só uma vitória técnica. É um movimento estratégico.
Para o consumidor: aproxima a experiência do streaming da TV tradicional, tornando o Globoplay mais competitivo para esportes ao vivo.
Para a Globo: reforça o valor do Premiere como produto premium.
Para o mercado: mostra que streaming ao vivo pode sim atingir níveis de latência muito baixos, mas exige investimento real em infraestrutura, tecnologia e experiência.
A questão agora é: esse novo padrão vai se expandir para outros canais? Ou continuará restrito aos jogos com apelo comercial mais alto?
Seja como for, uma coisa ficou clara com o Brasileirão 2025: O futuro do ao vivo não é só sobre qualidade de imagem, é sobre tempo.
Saudades do Flash... rs! Imbatível quando o assunto é baixa latência
Excelente artigo! Tem chance de testar em Apple TV ? Seria interessante saber… mas parece que o delay tambem diminui…