Em 2024, a IBM demitiu centenas de pessoas do seu time de Recursos Humanos. No lugar delas, implantou sistemas de IA treinados para responder dúvidas, processar folhas de pagamento, conduzir admissões, revisar currículos, emitir comprovantes e sugerir planos de carreira.
A decisão gerou críticas imediatas, mas não foi apenas um corte de custos. Foi o início de uma transformação silenciosa e irreversível na forma como grandes empresas enxergam o papel do RH.
O que motivou a mudança?
Segundo o CEO Arvind Krishna:
“A IA já substituiu algumas centenas de cargos de RH. E com os recursos liberados, contratamos mais desenvolvedores e vendedores.”
Traduzindo: menos cargos administrativos, mais gente desenvolvendo software e vendendo soluções.
A lógica vai além de cortar custos.
A estratégia é deslocar recursos de áreas de apoio para os motores de crescimento da empresa.
Desde 2017, a IBM já economizou US$ 107 milhões com iniciativas de IA no RH.
Mas o foco atual é mais sofisticado: reinvestir esse ganho em áreas como software e vendas.
Em outras palavras, usar o backoffice para turbinar o frontoffice.
Bots, agentes e automação em larga escala
A base da transformação é o watsonx, plataforma da própria IBM.
Dois componentes centrais:
watsonx Orchestrate: para orquestrar fluxos de trabalho com IA sem exigir codificação profunda.
watsonx HR Agents: bots especializados em tarefas de RH — como folha de pagamento, férias, transferências internas, onboarding e suporte ao colaborador.
Esses agentes conversam com mais de 80 sistemas e foram responsáveis por economizar 12 mil horas de trabalho repetitivo em apenas um trimestre.
A estrela do sistema, no entanto, é o AskHR, um assistente conversacional usado por milhões de colaboradores.
Veja os dados:
O impacto: corte ou reconfiguração?
Cerca de 200 posições administrativas no RH foram eliminadas. Mas, segundo o próprio Krishna:
“Nossa força de trabalho total cresceu. Não estamos reduzindo, estamos realocando.”
A visão é clara: o RH não vai sumir, vai evoluir. Sai o papel operacional, entra o papel estratégico.
Nickle LaMoreaux, Chief Human Resources Officer da IBM, disse:
“Queremos que os profissionais de RH atuem com desenvolvimento de talentos, cultura, liderança. A IA cuida do resto.”
Essa mudança exige um novo perfil profissional:
Menos especialista técnico, mais generalista estratégico.
Capaz de analisar dados, fazer coaching, criar experiências, influenciar decisões.
E, claro, capaz de trabalhar com IA.
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O lado difícil: resistência, cultura e rupturas
Nem tudo funcionou de primeira.
O AskHR foi lançado em 2017, mas… ninguém usava. As pessoas preferiam mandar e-mail ou bater na porta do RH.
Em 2018, a IBM fez uma aposta arriscada: desligou telefone e e-mail. O bot virou o único canal de atendimento. O NPS despencou para -35. Mas, com melhorias contínuas, o sistema evoluiu, e hoje tem NPS +74.
Esse episódio mostra o que todo líder precisa entender:
Transformar com IA é menos sobre tecnologia e mais sobre comportamento.
Além disso, a empresa enfrentou desafios sérios com:
Reskilling: nem todo mundo está pronto para virar “estrategista de dados”.
Desmonte de cargos de entrada: tarefas repetitivas eram porta de entrada para novos profissionais, e a IA está assumindo boa parte delas.
Riscos de viés, privacidade e ataques à integridade dos dados.
Por isso, a IBM criou um framework ético com 5 pilares: explicabilidade, justiça, robustez, transparência e privacidade.
O que empresas podem aprender com esse caso?
A IBM virou laboratório da própria tecnologia. O que funciona lá, outras empresas podem testar aqui.
Principais lições:
Automatize só depois de simplificar.
O mantra da IBM é: Elimine, simplifique, automatize.Prepare o time para a transição.
Só 6% das empresas dizem ter um plano sólido de upskilling em IA, embora 89% reconheçam que precisam. A IBM está entre as que agem.Crie governança antes do colapso.
Sistemas que tomam decisões sobre pessoas precisam ser auditáveis, explicáveis e justos.Comece por onde há mais volume e repetição.
Onboarding, atendimento de dúvidas, folha de pagamento. Comece simples, colha resultados, e escale depois.
Outras gigantes como Microsoft, Google e Accenture estão seguindo caminhos parecidos. Automatizando RH, aumentando produtividade, ressignificando papéis.
Mas poucas fizeram isso com tanta transparência, governança e coragem quanto a IBM.
No fim das contas, não é só sobre IA.
É sobre redescobrir o que significa trabalhar, e o que queremos preservar como humano nesse novo ciclo.
A pergunta não é se sua empresa vai adotar IA no RH. A pergunta é: com qual intencionalidade, ética e preparo você vai fazer isso?
Li hoje pela manhã e até compartilhei esse insight com o meu time porque estávamos falando sobre as demissões da Microsoft e lembrei desse case.