Quando um MVP deve acabar?
O projeto global de arte de Jan Vormann que usa LEGOs para reparar paredes danificadas ilustra bem formas insustentáveis de manutenção de MVPs.
O Minimum Valuable Product (MVP) é um conceito quase universalmente compreendido: a criação de um produto da forma mais simples e ágil possível com o objetivo de validar determinada premissa (o produto em si, uma nova funcionalidade etc.)
A ideia por trás é provar um conceito de forma prática, avaliado por meio dos dados como feedbacks de clientes. Entretanto não são raras as ocasiões em que um MVP acaba se tornando o produto da empresa em si, e o que deveria ser apenas temporário, acaba tornando-se padrão.
O conceito do MVP
O termo surgiu em 2001 com Frank Robinson (co-fundador e presidente da empresa SyncDev), e popularizada por Eric Ries no livro “The Lean Startup” com uma definição simples e direta.
“O MVP é aquela versão do produto que permite uma volta completa do ciclo construir-medir-aprender, com o mínimo de esforço e o menor tempo de desenvolvimento”
- Eric Ries no livro The Lean Startup.
Em sua definição inicial, o MVP deve mostrar a razão de desenvolvimento de determinado produto/feature atingindo o objetivo pelo qual foi criado, de forma enxuta. Para isso, é necessária ter a proposta de valor bem definida: qual a dor que será sanada? Qual cluster será o público-alvo? Quais indicadores de negócios serão alterados á partir dessa premissa?
A falta de definição de alguns preceitos básicos pode causar dificuldades na hora de uma equipe delimitar seus limites em relação a duração do MVP em si, entretanto existem diversas outras causas que levam a essa resolução.
Valores
O MVP em si tem como característica um orçamento reduzido: como fazer mais (validação de premissa) com menos (sem todo o custo envolvendo o desenvolvimento por completo, divulgação via marketing, sustentação a longo prazo além de diversos outros).
Entretanto essa é uma das características que fazem com que o MVP permaneça de forma contínua em algumas empresas: a implementação de forma definitiva necessita de investimentos adicionais, ou seja, os custos claramente serão diferentes daqueles que foram considerados inicialmente.
Isso faz com que as organizações queiram empurrar os próximos passos para o futuro, visando não comprometer o seu orçamento anual, por exemplo.
Premissa incorreta
Esse pode ter uma relação bem íntima com o preciosismo: quando o MVP acaba não correspondendo as expectativas, o mesmo pode permanecer ativo (à la Walking Dead) pensando em ‘provar um ponto’, ou que ‘em um prazo maior teremos resultados’.
Aqui a linha é bem tênue entre um MVP que verdadeiramente pode trazer resultados com um prazo um pouco maior do que foi originalmente acordado, e uma postergação do inventável resultado negativo/premissa invalidada.
Mas é preciso fugir da armadilha do médio/longo prazo: por definição o MVP deve ficar vigente em um curto espaço de tempo.
Isso ainda é raro de se encontrado nas organizações, mas as vezes determinado produto ou feature deve ser descontinuado depois de resultados negativos com testes iniciais. E isso traz outa concepção sobre o MVP...
Processo ≠ Produto
... de que o mesmo não é um produto em versão inicial, e sim um processo contínuo. Quando construímos um protótipo temos uma série de suposições e estudos que foram estudados previamente para sugerirmos uma nova solução (o que agregará valor ao usuário, como o design deverá funcionar, qual estratégia de marketing usar, qual arquitetura será mais eficiente, qual estratégia de monetização é a ideal) etc.
Vamos considerar as start-ups que basicamente vivem constantemente com MVPs em seus fluxos de produto, visando desenvolver algo que vá ressoar com o respectivo mercado: a CB Insights analisou de 2018 a 2021 mais de 110 start-ups e os principais motivos pelas quais elas não obtiveram sucesso e encerraram suas atividades.
Vale ressaltar que mais de um motivo pode ter sido selecionado pela mesma organização.
Dentre eles, a “falta de um mercado claro para o produto” em questão fica em segunda posição, com 35% dos pesquisados.
Levantamento feito pela CB Insights dos principais motivos de fracasso das start-ups.
Ou seja, muitas start-ups falham ao tentar resolver um problema que não existe/é pouco relevante ao seu público-alvo. Se um MVP fosse criado de forma verdadeiramente a captar insights durante essa etapa, talvez o seu Product Market Fit (PMF) pudesse ter calculado o grau com que o produto em questão satisfazia a demanda de mercado (ou não).
Excesso de features
Esse é outro ponto que pode atrapalhar na hora de mensurarmos dados de um MVP, mesmo tendo uma definição clara de quais serão eles. Por mais que tenhamos visibilidade das métricas utilizadas, as vezes o MVP vai além do que uma sugestão ou hipótese inicial e busca agregar uma série de características diferentes.
Isso se traduz pela falta de utilidade percebida pelo usuário: um exemplo prático são o aumento na quantidade de apps que atualmente agregam a funcionalidade de marketing place dentre suas funcionalidades, mesmo que seu propósito de uso original não tenha nenhuma relação com essa aplicabilidade.
Sendo assim, caso a premissa inicial não seja validada, um app com diversas características, por exemplo, já é ‘grande demais’ para ser descontinuado.
E esse exemplo não é necessariamente ruim: talvez tenhamos atingido um ganho ao mirarmos em outro, mas ao manter todos eles, não seria uma forma de dificultarmos o próprio cliente em acessar o que ele verdadeiramente busca? Talvez uma revisão de escopo (downsizing do produto) possa gerar melhor qualidade em sua experiência?
Quanto tempo um MVP deve levar?
A pergunta que resume todo esse artigo pode ser desanimadora, porém realista: depende. Um estudo feito pela Altar.io, uma empresa de desenvolvimento de produtos e software dos EUA, considerando dados da própria organização e sua rede de empreendedores (além de levar em consideração os tipos de produtos pesquisados e a composição da equipe utilizada para construí-los) trouxe que o tempo médio para construção de um MVP é de 4 meses.
Estudo conduzido pela Altar.io em relação ao tempo de desenvolvimento de um MVP.
Vale ressaltar que o tempo de desenvolvimento e duração de um MVP não são necessariamente proporcionais: conforme a própria imagem mostra as variáveis de segmento, complexidade da feature/produto, tecnologia e diversos outros impactam diretamente no tempo a ser dedicado para a realização do estudo.
Independente do segmento em questão, o que precisamos evitar em relação ao que criamos é que aquele desenvolvimento mais simples se torne o novo padrão por questão de custos ou falta de uma forma válida de avaliação do desempenho: entender o MVP como parte de um processo de desenvolvimento é fundamental para que o mercado adote boas práticas e possa dedicar tempo e recursos ao objetivo de qualquer produto: gerar valor agregado e real ao seu cliente.
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