Resumo sobre o Product Operations Summit 2025
Olá leitores do Product Guru's! Meu nome é Pedro Nakamura, sou Diretor de Product Operations na Guidewire, pai de pet e marido da Keli. Tenho mais de 17 anos de experiência em Tecnologia, sendo mais de uma década de experiência especificamente no mercado de Seguros.
Iniciei minha carreira na CRK Informática, depois passei alguns anos como consultor na Accenture Brasil, antes de entrar na AIG (sim, aquela mesma estampada na camisa do Manchester United na época em que você jogava Winning Eleven com seus amigos). Durante meu capítulo na AIG, fui convidado a me mudar e trocar São Paulo por New York em 2016.
Após mais alguns anos morando em New York e liderando projetos internacionais para a AIG, aceitei uma proposta da Amazon e me mudei para Seattle em 2018. Durante meus 6 anos na Amazon como PM, tive exposição a diversas indústrias incluindo Educação, Retail e, para a surpresa de ninguém, Seguros.
Hoje na Guidewire (líder no mercado de SaaS para o mercado segurador), eu lidero Product Operations suportando os principais produtos da empresa, e estou atualmente baseado na Flórida.
Como “correspondente internacional” do Product Guru's, eu espero trazer uma perspectiva diferente para os diversos temas abordados pela comunidade, especificamente sobre gestão de produtos e Prod Ops fora do Brasil. Boa leitura!
O que é o Product Operations Summit?
Product Operations Summit é um evento que ocorreu entre 18 e 19 de Março em New York, organizado pela Product-Led Alliance que visa reunir profissionais da área de Prod Ops para trocar experiências, melhores práticas, tendências e ferramentas.
É também essencialmente um evento para networking e, por muitas vezes, uma terapia em grupo, já que os profissionais presentes compartilham não só os cases de sucesso, mas também as frustrações e problemas enfrentados liderando times de Prod Ops.
A Product-Led Alliance organiza eventos para toda a comunidade de Produtos, possuindo também eventos específicos para PMs e até para CPOs.
Minha perspectiva sobre os tópicos abordados
O evento foi bastante rico na diversidade de tópicos e também de indústrias representadas. Haviam pessoas que trabalhavam para Big Tech, Editoras, empresas do Mercado Financeiro, e até ONGs.
Entre apresentações de case de sucesso, tivemos a oportunidade de trocar experiências durante sessões de roundtable para discutir problemas específicos, como: planejamento estratégico, uso de IA em Prod Ops, plano de carreira para profissionais de Prod Ops, e muitos outros tópicos relevantes.
Meus principais aprendizados durante esses dois dias foram:
Foque no básico antes de tudo
Uma das coisas que mais atrapalham a relação entre times de Produto e times de Engenharia é a existência de diversos padrões diferentes para documentação, metodologia, e nomenclatura. Prod Ops pode, e deve, ajudar na padronização de artefatos essenciais como PRD, e qualquer outro documento e processo utilizado para comunicar as necessidades do cliente.
Da mesma forma, é comum também existir mais de uma terminologia para se referir às métricas de negócio. É trabalho do profissional de Prod Ops tentar influenciar a padronização das definições de métricas de sucesso, o que facilita fazer a “ponte” entre a visão estratégica e o resultado observado com a execução.
Fazer um inventário de fontes de dados também é um ótimo primeiro passo para qualquer profissional de Prod Ops, e um passo fundamental para que o time de Produto consiga enxergar quais são os dados disponíveis atualmente e onde existem gaps. Após a conclusão deste inventário, o próximo passo deve ser mapear o acesso dos times de Produtos a dados críticos, e assegurar que todos os profissionais possuam o acesso necessário. (alinhado com as políticas de privacidade e proteção de dados da empresa).
Essas medidas parecem básicas, mas justamente por serem básicas, são muitas vezes ignoradas ou postergadas. Ao endereçar as necessidades básicas primeiro, a área de Prod Ops pode preparar uma fundação sólida para mudanças mais ambiciosas e impactantes no futuro.
Mire no equilíbrio entre padronização e flexibilização
Parece conflitante dizer que precisamos estabelecer padrões mas também sermos flexíveis ao mesmo tempo. Mas essa é justamente uma das maiores dificuldades da área de Prod Ops, e também uma das razões pelas quais eu pessoalmente acredito que profissionais com vivência em gestão de produtos podem se tornar excelentes profissionais de Prod Ops.
Para quem já esteve na posição de PM, é mais fácil empatizar com todas as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia, além da pressão da auto-cobrança em tomar decisões acertadas, enquanto se tenta balancear o estratégico com o operacional.
Prod Ops deve propor padronizações quando relevante, e quando a proposta for trazer real valor para aliviar a carga operacional em cima dos PMs, mas nunca propor padrões sem antes fazer um devido discovery com seus clientes internos (PM).
Uma padronização de processos, documentação e ferramentas também ajuda no alinhamento de expectativas dos artefatos que são consumidos por outros times, principalmente por engenharia.
Por exemplo, é muito difícil para um time de engenharia receber requisitos em uma granularidade, nível de qualidade e formatos completamente diferentes de dois PMs distintos. É aí que a área de Prod Ops pode entrar para propor uma padronização básica, mas sem comprometer a autonomia e flexibilidade de cada PM.
Planejamento estratégico é mais difícil do que parece
Bem no comecinho da minha carreira, eu tinha aquela visão bonitinha sobre como seria o processo de planejamento de uma empresa, em que o C-suite define a visão para os próximos X anos, e a partir disso a estratégia é montada via um efeito em cascata passando pelo middle management até a execução.
Qualquer profissional com um pouco de experiência e exposição a esses processos sabe que nada disso é verdade. Na prática, o que acontece em todas as empresas é que o processo de planejamento estratégico nunca está perfeito e sempre há oportunidades para melhoria.
No mundo corporativo real fora dos livros, existem inúmeros problemas que contribuem para aumentar a complexidade do planejamento: falta de consenso na visão, times com objetivos conflitantes, discrepância nos critérios de priorização de iniciativas, gaps de comunicação, objetivos que não estão alinhados às necessidades reais dos clientes, e muitos outros que não terei tempo ou espaço para listar aqui.
A função de Prod Ops nas empresas é crucial para não só estabelecer o mínimo de processos a serem seguidos, mas também para ajudar a mudar a mentalidade e a cultura da empresa com relação às mudanças no plano original que eventualmente ocorrerão ao longo do(s) ano(s).
Profissionais de Prod Ops suportando planejamento estratégico devem se atentar às seguintes práticas:
Comunicação antecipada e contínua;
Uso de ferramentas para centralizar informação e promover só “uma única versão da verdade”;
Criação de fóruns para promover colaboração constante entre times;
Iteração no processo de planejamento, possibilitando feedback contínuo a cada ciclo de planejamento e melhoria do processo
Uma cultura de planejamento contínuo contribui para uma organização mais ágil e menos “engessada”. Este é um processo essencial em qualquer empresa, mas que sem uma área de Prod Ops dedicada, acaba se tornando uma responsabilidade dividida entre diversas funções.
Dependendo do grau de maturidade dos processos de planejamento estratégico da empresa, profissionais de Prod Ops devem se preparar para dedicar bastante tempo na criação, comunicação e implementação desses processos no início.
Mas à medida que a cultura da empresa vai evoluindo, é esperado que o tempo dedicado à manutenção desses processos diminua.
Iniciativas de VOC dependem de uma análise estruturada
Realizar um inventário de dados com o objetivo de enriquecer a análise quantitativa e qualitativa de requisitos deve ser um dos focos do profissional de Prod Ops. O termo VOC (Voice of the Customer) é normalmente utilizado para descrever iniciativas ou programas que têm a intenção de coletar e apresentar dados qualitativos de uma forma estruturada. Dependendo da empresa, essas iniciativas podem ser lideradas pelo time de Product Marketing, Vendas, ou até mesmo pela própria área de Produtos.
Mas independente de qual área lidere o programa de VOC da empresa, é função do profissional de Prod Ops estar ativamente envolvido para endereçar os interesses dos times de Produto.
Dados que suportam os programas de VOC podem se originar de: notas escritas por um membro do time de vendas durante uma visita a um cliente, conversas com clientes e parceiros durante um evento, feedback direto do usuário coletado através de entrevistas, ou também por uma feature de coleta de feedback embutida no próprio produto.
Devido à natureza desestruturada desses dados e múltiplas fontes, é comum que ao longo do tempo existam diversos repositórios distintos (sistemas de CRM, planilhas, documentos, etc.), aumentando a complexidade de se extrair algum valor deles. É exatamente nesse ponto que iniciativas de VOC precisam focar em gerar valor.
Ações como a criação de um método único de intake, consolidação dos dados em um repositório único, e a padronização de critérios para priorização de dados qualitativos, facilitam muito o consumo desses dados para fins de discovery por parte dos PMs.
Endereçar as ações descritas acima não é de maneira nenhuma um trabalho trivial e que, dependendo da quantidade de dados, fontes, e times envolvidos, pode muito bem tornar-se um robusto produto interno e que demande esforço considerável de alguns engenheiros de dados.
Uma das tendências discutidas durante o Product Operations Summit foi o uso de IA para sumarizar grandes quantidades de dados qualitativos e extrair insights para discovery de produtos.
Considerações finais
Apesar de existir oficialmente por vários anos, a função de Product Operations ainda varia muito dependendo do contexto da empresa e da maturidade dos times de produto.
Os profissionais de Prod Ops possuem backgrounds variados, em sua grande maioria vindo de áreas como Gestão de Programas/Projetos e Operações, mas alguns também que saíram de Gestão de Produtos (me incluo nessa categoria).
O sentimento que eu tive ao encontrar tantos profissionais da área, é que de uma maneira ou de outra, todos ainda estão aprendendo e se adaptando aos contextos onde estão inseridos.
Mas durante esse aprendizado e adaptação, os profissionais de Prod Ops estão aperfeiçoando metodologias, criando novos processos, gerando valor estratégico real para as organizações e, o melhor de tudo, compartilhando tudo isso com uma comunidade que cresce cada dia mais.
Se você gostou desse tipo de conteúdo, se tiver algo a acrescentar, ou quiser bater um papo sobre Gestão de Produtos, Prod Ops, ou vida no exterior, fique à vontade para me chamar no LinkedIn!
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