SDI25 Dia 1: A humanidade como a última fronteira da inovação no Itaú
A sétima edição da Semana do Designer do Itaú começou com um recorde de público, com mais de 10 mil inscritos, e a promessa clara de que em um momento de aceleração tecnológica sem precedentes, é a emoção que fará a diferença.
A convite do Itaú, estivemos lá para decodificar o que essa promessa significa na prática para líderes de produto e design. E o que vimos foi uma inversão de expectativas, onde a tecnologia mais avançada do dia não foi um algoritmo, mas sim a complexidade da experiência humana.
Essa tese se provou em três pontos principais, que juntos formam um guia para navegar a era da IA sem perder a alma do produto.
A Tecnologia precisa “sentir” para ser relevante
A abertura com Eduardo Maia, Superintendente de Design, já definiu o tom ao cravar que não projetamos experiências, projetamos interações; a experiência acontece dentro de cada indivíduo.
Em meio a tanta discussão sobre futuro e IA, o momento mais emocionante foi uma homenagem necessária ao passado. Clayton Caetano, Head de Marca e Design, dedicou a SDI25 ao legado de Célia Moreira, a “Célinha”, falecida no início de outubro.
Célia não foi apenas uma colaboradora; ela foi a pioneira que fundou a área de design do Itaú há mais de 40 anos, no início da década de 80. Num tempo em que o design corporativo ainda engatinhava no Brasil, ela teve a visão de estruturar essa disciplina dentro do banco.
Sua contribuição mais visível permanece icônica até hoje foi o movimento que trouxe a cor laranja para a identidade do Itaú. Na época, essa simples operação de design causou um impacto de negócio imensurável, já que ao pintarem as agências de laranja, elas ganharam tamanho destaque na paisagem urbana que o público teve a percepção de que o banco havia dobrado o número de pontos físicos.
Hoje em dia, a tecnologia escala a entrega, mas para a marca só a sensibilidade humana garante a conexão. Essa filosofia foi testada na prática na palestra sobre a identidade. O time de design do Itaú, representado por Regis Lima, Beatriz Oliveira, Ricardo Destro e João Generoso, compartilhou um processo criativo marcado pela experimentação manual e sensorial.
Eles fugiram do óbvio, buscando uma identidade que partisse de um lugar pouco explorado: a experiência cognitiva e os sentidos O time de design do Itaú revelou como a criação da identidade sonora do evento esbarrou em barreiras culturais. Um simples acorde de sanfona, que soava caloroso e como casa para alguns, era apenas transformador para outros.
Um exemplo claro dessa experimentação foi a criação da identidade sonora. Durante workshops, o time percebeu que a percepção musical é profundamente influenciada pela bagagem cultural de cada um. Estímulos sonoros foram analisados para criar o visual, a trilha que repercute no evento é exclusiva e criada pelo time de design. O trabalho começou em cima de estímulos sonoros gerados no processo criativo da equipe e misturados com os sons do Brasil. Depois disso, desdobraram para o visual. Sons mais graves foram representados com um desfoque. Isso foi traduzido para a forma sendo criada e expressa em gradientes e artes. A representação do som na arte tinha alguma característica, que fosse sólida, feliz e que não deixasse de lado o nome da marca, que significa Pedra Preta. O resultado a gente vê por todo branding da semana de design.
Nenhuma IA, por mais avançada que seja, conseguiria simular essa nuance cultural e sensorial hoje. A tecnologia escala a entrega, mas só a experimentação humana, com suas subjetividades e bagunça criativa, garante a conexão verdadeira.
O verdadeiro Insight nasce do desconforto
No painel mais provocativo do dia, o antropólogo Michel Alcoforado demoliu a ideia romantizada de discovery. Ele usou um exemplo citado por Fabrício Dore para ilustrar seu ponto, a mudança de um simples botão no app do Itaú que gerou centenas de milhões em resultado.
A provocação de Michel foi direta: “Um botão nunca é só um botão”.
Ele alertou que nenhum consumidor vai chegar para você numa pesquisa e dizer “eu acho que o botão precisa mudar de lugar no Itaú”. Se ele dissesse, você não precisaria pagar caro por um designer; bastava pagar o incentivo da pesquisa.
O verdadeiro insight que leva a essa mudança milionária não sai da boca do usuário, mas da observação da tensão cultural que ele vive .
“A pesquisa não pode ser um momento bom. Ela tem que ser um momento de desconforto, de ruídos”. É esse desconforto que revela o problema real que o usuário nem sabe que tem. Se você volta de campo apenas validando suas certezas, você perdeu a chance de encontrar o próximo botão de milhões” - Michel Alcoforado
A Acessibilidade deixou de ser compliance para virar estratégia
Bernardo Barlach, do Google, trouxe o case mais prático do dia sobre o impacto real da IA. Ele enterrou a velha visão da acessibilidade como um checklist chato de conformidade (WCAG) que o PM empurra para o final da sprint.
Não é mais sobre ler a tela, é sobre entender o contexto. A IA permite sair de descrições genéricas de imagem para interpretações ricas do ambiente em tempo real, ou transformar legendas automáticas em ferramentas de participação ativa em reuniões.
Ele ainda trouxe o exemplo de efeito corte de calçada, assim como rebaixar as calçadas para cadeirantes acabou ajudando mães com carrinhos de bebê e ciclistas, as ferramentas digitais de acessibilidade hoje beneficiam 100% da base de usuários.
O exemplo dado foi sobre legendas e transcrições. Criadas originalmente para pessoas surdas ou com deficiência auditiva, elas furaram a bolha. Hoje, são essenciais para quem assiste vídeos no mudo em ambientes barulhentos, para falantes não nativos que precisam de reforço na compreensão, ou simplesmente para quem absorve melhor o conteúdo lendo do que ouvindo.
A IA tornou a acessibilidade personalizada e escalável. Para o líder de produto, a lição é clara, investir em acessibilidade com IA não é apenas fazer a coisa certa, é diferenciar seu produto com uma tecnologia de assistência que, invariavelmente, acaba melhorando a experiência para 100% da base.
IA pode ser o motor da eficiência, mas a humanidade continua sendo o volante da direção estratégica
Investir em IA para ganhar velocidade é obrigação, mas a aposta que vai te diferenciar em 2026 ainda é a velha e boa empatia, seja para entender uma tensão cultural, seja para ter a coragem de pintar um banco inteiro de laranja.
E este foi apenas o começo!
Um agradecimento especial ao Time de Design do Itaú pelo convite e, principalmente, por elevar a barra das discussões no nosso mercado. É raro ver um evento corporativo que não tem medo de tocar nas feridas reais da nossa profissão.
Amanhã tem mais.






