Trabalhar muito não é aprender
Se você trabalha com produto, já viveu isso: horas em reunião, PPT aberto, Excel cheio de abas, todo mundo discutindo estratégia. Você sai cansado, com a sensação de que o dia foi produtivo. Mas quando olha para trás, quase nada realmente mudou para o cliente. Nada novo foi testado. Nada novo foi aprendido. Só ficaram mais arquivos salvos na pasta de apresentações.
É aqui que a frase do Brian Armstrong pega em você: ação gera informação. Enquanto você tenta montar o plano perfeito, o mercado está te respondendo em silêncio. Usuário cancela, churn sobe, feature é ignorada, canal morre. Você até tem uma hipótese sobre o motivo, mas não coloca nada na rua para validar. A sensação é de controle, mas o que existe mesmo é paralisia bem organizada.
Talvez você esteja preso na busca por 100 por cento de certeza antes de fazer qualquer movimento. Só libera experimento depois de ouvir todo mundo, montar o Miro gigante, documentar cada detalhe e passar pelo comitê certo. Você até chama isso de responsabilidade. Na prática, vira uma forma sofisticada de adiar o desconforto de ver sua ideia sendo confrontada pelo mundo real.
Olha para a sua agenda recente. Quantas horas você passou em dinâmicas intermináveis no Miro, trocando post-its, renomeando clusters, ajustando cores, sem chegar em um experimento concreto, com data e dono, para rodar com cliente de verdade? Ferramenta visual é ótima para organizar pensamento, mas vira armadilha quando você começa a trabalhar mais para alimentar o quadro do que para mexer no produto.
O mesmo vale para documentações enormes. Talvez você já tenha escrito ou recebido PRDs que parecem TCC: vinte páginas, dezenas de cenários, anexos, prints, fluxos. Você sabe que quase ninguém vai ler tudo, mas segue nesse modelo porque é “o jeito certo”. Se o esforço para escrever um documento é maior do que o esforço para colocar uma versão simplificada em produção limitada, algo está fora de escala.
Execução não é o oposto de estratégia. Para você, que trabalha com produto, a execução deveria ser o principal jeito de pensar a estratégia. Em vez de tentar acertar tudo no papel, você usa o produto como laboratório. Define uma hipótese honesta, desenha o menor teste possível, combina o que será medido e volta em uma data específica para olhar os resultados. A estratégia deixa de ser promessa e vira consequência do que você aprendeu.
Nesse modelo, o seu papel muda. Você não é mais o guardião do Miro, nem o dono do PowerPoint perfeito. Você vira a pessoa que encurta o caminho entre “temos uma ideia” e “o cliente reagiu assim”. Você conduz a conversa para perguntas simples: qual é o próximo experimento? O que exatamente vamos mudar? Em quanto tempo? O que vai nos dizer se vale escalar, ajustar ou matar essa iniciativa?
Se você sente que não tem tempo para executar, talvez seja justamente porque está gastando energia demais preparando material para provar que tudo está sob controle. O paradoxo é duro: quanto mais você tenta garantir certeza na teoria, mais lento você fica na prática. E quem se move devagar em produto não perde só velocidade. Perde relevância. Enquanto as discussões seguem, quem está testando aprende em ciclos curtos e passa na sua frente.
Então faz o seguinte: pega um tema que está travado hoje. Uma feature, um canal, uma hipótese de pricing, uma ideia de campanha. Em vez de abrir mais um board no Miro, escreve em uma frase qual é a sua aposta e qual é o menor teste que você consegue rodar em uma semana. Define um número para observar, combina com o time e coloca para rodar.
Um exemplo bem simples para ilustrar: “se eu trocar o CTA do e-mail de upgrade por uma oferta de teste grátis de 7 dias, aumento em 20% a taxa de clique”. Você pode testar enviando essa nova versão do e-mail para 10% da base por uma semana e comparar taxa de clique e upgrades com um grupo de controle que continua recebendo o e-mail antigo.
Define o número que você vai observar, combina com o time e coloca para rodar. Quando essa semana acabar, você vai ter algo que nenhuma reunião entrega: informação nova para decidir o próximo passo.
Se ação gera informação, a pergunta não é mais “como deixar o plano perfeito”. A pergunta vira: qual é o experimento pequeno que você, não o mercado em geral, vai colocar na mão do cliente ainda este mês para sair do modo apresentação e voltar para o modo execução?
curiosidade: o título desse meu artigo está em teste A/B para saber qual título gera mais cliques.



