Olá, eu sou a Isadora Pires, e é um prazer estar com você nesta jornada de reflexões que teremos hoje. Te convido a explorar um tema crucial, por vezes negligenciado e ultimamente bem sutil: o silenciamento da mulher no mundo da tecnologia através do machismo intrínseco nesta área.
Para absorver esse conteúdo com a devida atenção, sugiro que se acomode confortavelmente, mantenha sua mente aberta e desfrute de uma xícara generosa de café.
Vamos lá?
O machismo visceral no setor tecnológico
Neste mundo em constante transformação e evolução, a tecnologia molda nossa realidade de maneira impressionante, no entanto, enquanto celebramos as conquistas da inovação tecnológica, é crucial também lançar luz sobre as sombras que persistem no nosso cotidiano.
Uma dessas sombras é o machismo, que, infelizmente, continua a ser intrínseco no campo da tecnologia, afetando não apenas as Product Managers, mas também todas as mulheres que desempenham papéis diversos nessa indústria.
40% das mulheres entrevistadas em pesquisa do Instituto Patrícia Galvão, afirmam que já foram xingadas ou já ouviram gritos no trabalho, contra 13% dos homens que vivenciaram a mesma situação. Dentre os trabalhadores que tiveram seu trabalho excessivamente supervisionado, 40% também são mulheres e 16% são homens.

Desmascarando a falácia da igualdade
A despeito da tecnologia ser um veículo destinado a democratizar informações e oportunidades, o machismo ainda encontra abrigo nessa indústria, mulheres que almejam ingressar ou progredir em carreiras dentro da área da tecnologia enfrentam, frequentemente, barreiras sutis, desde preconceitos velados até discriminação explícita, além da falta de credibilidade (que começa na infância) e apoio para seguir a carreira.
Dados do Observatório Nacional da Indústria da CNI, baseados na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), indicam que, no momento atual, as mulheres representam apenas 25% da força de trabalho na indústria.
Anaely Machado, Especialista em Desenvolvimento Industrial de Mercado de Trabalho da Confederação Nacional da Indústria (CNI), enfatiza, assim como diversas mulheres que ocupam ou ocuparam cargos de alta gestão, que a conquista da igualdade no mercado de trabalho requer uma mudança cultural e uma maior representatividade feminina em posições que promovam sua plena participação.
O levantamento da CNI em parceria com a FSB foi realizado nas cinco regiões do país, com 1.000 representantes de empresas de pequeno, médio e grande porte. As entrevistas foram realizadas entre 6 e 23 de fevereiro de 2023.
A Invisibilidade das Gerentes de Produto
As Gerentes de Produto desempenham um papel crucial na concepção e lançamento de produtos digitais de sucesso. No entanto, com frequência, são subestimadas ou relegadas a segundo plano em um ambiente onde o paradigma de liderança ainda é predominantemente masculino.
Essa invisibilidade resulta, muitas vezes, em escassas oportunidades de progresso na carreira, remuneração inferior e uma sensação de alienação, que comprometem gravemente a motivação e a satisfação profissional.
Lamentavelmente, essas experiências não são casos isolados. Mulheres incrivelmente competentes, dotadas de habilidades analíticas e técnicas excepcionais, com carreira sólidas e com backgrounds invejáveis, frequentemente são subjugadas de maneira sutil e silenciosa em diversas situações do dia-a-dia.
Não é raro nos depararmos com uma história de assédio moral, relações abusivas de poder, perda de autoridade, isolamento intencional e até demissões com vieses por vezes questionáveis, de colegas de profissão, não é mesmo?
O Panorama Atual na Indústria Tecnológica
Em um cenário onde os homens ocupam impressionantes 83,3% dos cargos na indústria tecnológica, a desigualdade de gênero se revela de forma incontestável, no entanto, um raio de esperança brilha nos dados: nos últimos cinco anos (2015-2022), a representação feminina cresceu 60% no setor tecnológico, conforme apontam as estatísticas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED).
Apesar desse progresso, a imagem geral ainda é desoladora, apenas 12,3% dos postos de trabalho em tecnologia são ocupados por mulheres, em carreiras como desenvolvimento full-stack, infraestrutura e back-end, a disparidade se acentua ainda mais, chegando a 10 homens para cada mulher, conforme revela uma pesquisa conduzida pela Revelo.
O desequilíbrio salarial persiste
Mulheres que estão em empresas de tecnologia se deparam com questões sexistas enquanto avançam - ou não - na carreira, a diferença salarial entre os gêneros é um dos primeiros e antigos obstáculos enfrentados.
Nos mulheres, chegamos a ganhar 30% menos do que homens na área de TI, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, compilados por Bárbara Castro para o seu estudo.
"Já descobri que outro PM da mesma senioridade que eu, com a mesma qualificação e cargo ganhava o dobro do meu salário", mulher product manager, 35 anos.
A diferença salarial já foi explorada em outras pesquisas, como as da economista americana Linda Babcock, da Universidade Carnegie Mellon, e autora do livro Women Don't Ask. Uma de suas análises aponta que as mulheres ganham menos porque são menos propensas a negociar seus salários depois de uma oferta inicial.
Fomentando a Diversidade e Inclusão
É imprescindível que o setor tecnológico reconheça e combata ativamente o machismo sistêmico. Promover a diversidade e inclusão não é apenas uma questão de ética, mas também uma estratégia inteligente para impulsionar a inovação e o sucesso empresarial.
Conforme revelam dados recentes de uma pesquisa sobre igualdade de gênero na tecnologia, empresas que priorizam a diversidade de gênero em cargos de liderança têm 21% mais chances de superar suas metas financeiras.
Analisando empresas dos EUA e do Reino Unido, uym estudo produzido pela McKinsey concluiu que companhias com mais de 30% de mulheres no corpo executivo apresentaram uma maior probabilidade de desempenho financeiro.
Diversity Wins (2020) é o terceiro relatório produzido pela McKinsey em uma série de três estudos sobre diversidade que analisou dados de centenas de empresas de mais de 15 países entre 2014 e 2019.
O relatório mostrou o cenário da diversidade étnica, cultural e de gênero nas empresas ao longo dos anos, concluindo que as empresas com maior diversidade possuem uma probabilidade maior de obter ganhos financeiros acima dos concorrentes com menor diversidade.
No estudo de 2020, as empresas do primeiro quartil em diversidade de gênero nas equipes executivas apresentaram 25% mais probabilidade de ter lucratividade acima da média do que as empresas do quarto quartil. Essa probabilidade vem crescendo ao longo dos anos, conforme gráfico abaixo.
O Futuro Inclusivo da Tecnologia
Ao olharmos para o futuro, torna-se imperativo que todos nós, como membros da comunidade tecnológica, trabalhemos em conjunto para erradicar o machismo visceral em nossa indústria. Valorizar as contribuições das Gerentes de Produto, independentemente de seu gênero, é um passo fundamental para alcançar uma indústria tecnológica mais justa e inovadora.
Apesar de todos esses obstáculos, existem exemplos inspiradores de mulheres que desafiam os preconceitos e demonstram que "o lugar das mulheres é na tecnologia". Marissa Mayer, Ginni Rometty e Sheryl Sandberg são algumas das executivas mais poderosas do Vale do Silício, que ajudam a pintar um quadro mais otimista para o futuro.
A resistência tende a diminuir à medida que as pessoas se acostumarem a ver mulheres na tecnologia, é um processo gradual, mas necessário para construir uma indústria de tecnologia mais inclusiva e equitativa.
O que podemos concluir?
Embora as disparidades persistam, as mulheres na tecnologia são agentes de mudança, desafiando as expectativas e pavimentando o caminho para um setor mais diversificado, inclusivo e equitativo.
À medida que encerramos esta exploração, é crucial lembrar que a igualdade de gênero não é apenas uma questão de justiça social, mas também um impulso para a inovação e o sucesso nos negócios.
Nós, como sociedade e indústria, temos a responsabilidade de quebrar as barreiras que impedem as mulheres de prosperar no campo da tecnologia, somente assim poderemos colher os frutos de uma indústria verdadeiramente progressista e inovadora.
Pretendo em uma próxima edição abordar novamente esse assunto, assim poderemos mergulhar em histórias inspiradoras de Product Managers que romperam as barreiras de gênero e lideram a transformação na indústria tecnológica, caso você seja uma delas, o meu canal de comunicação aqui ou no LinkedIn está aberto para te ouvir, contar sua história e ajudar a inspirar outras mulheres por essa jornada.
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Parabéns pelo texto! Será bem legal ouvir relatos de mulheres falando como superaram essas barreiras de gênero na área de produto. É como um lembrete de que, apesar das barreiras, a mudança está acontecendo. E seria legal ler a sua perspectiva em uma análise interseccional, que nos ajudaria a entender melhor as nuances das desigualdades nas carreiras STEM. Um abraço!
Um texto tão legal! Com muitas informações importantes e bem apuradas. E me fazem pensar numa coisa: não adianta ter mulheres em cargos altos se elas não têm qualquer consciência de que é preciso sustentar o incômodo pra mudar as coisas e aliados pra fazer acontecer. Não existe representatividade de uma pessoa só e também não muda nada se a pessoa tá de acordo em perpetuar essas práticas. É profundo, difícil, atravessa um monte medos que a gente tem de ter grana pra pagar as contas e ver os nossos bem cuidados. Mas sem incômodo não há mudança real. E quem incomoda costuma ser varrida pra baixo do tapete ou posta pra fora rapidinho... é que gente assim não fica bem no PPT, né? Rs.