Product Manager virar “builder” é simplificar um papel complexo
O desafio real é entender problemas complexos de negócio e usuário. É lidar com política interna, alinhar stakeholders, tomar decisões difíceis sobre o que não fazer.
Falar que PM vai virar builder é simplificar demais o papel estratégico do produto. A IA não muda o fato de que alguém precisa pensar estratégia, priorizar o que realmente importa e garantir que estamos resolvendo os problemas certos.
Sim, as ferramentas estão evoluindo. Cursor, ChatPRD e outras IAs ajudam a criar documentos e protótipos mais rápido. Mas velocidade de execução nunca foi o maior desafio de produto. A rapidez em criar não significa necessariamente criar a coisa certa.
E tem mais: muitas empresas sequer permitem o uso dessas ferramentas. Com políticas rígidas de segurança e governança, muitos PMs só podem usar o o que vem com o pacote contratado da Microsoft ou Google. Tem empresa que bloqueia até YouTube, imagina liberar acesso a IAs ou sites de automação que processam dados sensíveis de produto.
O desafio real é entender problemas complexos de negócio e usuário. É lidar com política interna, alinhar stakeholders, tomar decisões difíceis sobre o que não fazer.
IA pode gerar 100 ideias em segundos, mas escolher qual vale a pena construir ainda precisa de julgamento humano.
A ideia de que menos engenheiros serão necessários ignora a complexidade dos produtos atuais. Sistemas robustos, seguros e escaláveis ainda precisam de expertise técnica sólida. Um protótipo feito com IA está longe de ser um produto pronto pra produção.
Descoberta de produto vai muito além de documentação e protótipos. É sobre entender contexto de mercado, limitações técnicas, necessidades não ditas dos usuários. É sobre fazer as perguntas certas, não só gerar respostas rápidas.
Um bom PM precisa balancear diferentes interesses e perspectivas. Precisa entender quando uma solução tecnicamente impressionante não resolve o problema real do usuário. Quando uma demanda urgente dos stakeholders não se alinha com a estratégia de longo prazo.
Essa visão de PM "builder" assume que todas as empresas vão adotar essas novas ferramentas rapidamente.
A realidade é diferente: empresas com negócio maduro podem demorar anos pra aprovar o uso de uma simples ferramenta de IA no processo de produto.
O que muda não é o papel do PM, mas suas ferramentas - quando disponíveis e aprovadas pela empresa. Em vez de passar horas formatando docs, podemos focar mais em estratégia e decisões importantes.
A IA libera tempo pro que realmente importa: pensar criticamente sobre o produto e seu impacto.
Como você vê o papel do PM evoluindo num cenário onde nem todas as empresas podem ou querem adotar as últimas novidades em IA?
Tem hype e tem caminhos. Estamos presos a “o que a IA faz por nós” e esquecendo “o que devemos fazer para que a IA gere valor”
Um pensamento: https://open.substack.com/pub/codenuts/p/de-documentos-a-conhecimento-o-primeiro
Total. E parece que quanto mais alto na camada executiva a pessoa está, menos ela entende da complexidade e da identidade do que é fazer produto.
Um produto super novo ainda nas primeiras fases de validação e PMF nem tem uma área de jurídico/compliance pra se preocupar. Mas lá na empresa grande, na reunião do board, vão questionar o CPO "mas na nossa indústria tô vendo um monte de gente nova botando produto na rua todo dia com AI!".
Acho que no futuro os PMs até serão mais builders, mas não necessariamente isso vai passar a ser o centro da identidade da função. Talvez, justamente pela facilidade crescente em codar/prototipar, esse papel de "entender o que realmente precisa ir pra rua" fique cada vez mais importante.
Pra finalizar, acredito que o grande salto pros PMs com AI ainda está por vir. Quando tivermos 2 coisas, na minha visão: agentes que realmente consigam varrer toda a stack de dados e insights pra trazer informações rápidas sobre absolutamente qualquer coisa da empresa (algo que o iFood já tem bem encaminhado); e, em segundo lugar, quando a automação do design system for tão foda que com poucos prompts qualquer pessoa consiga criar um prototipo navegável bom - e a partir daí a gente muda muito a dinâmica das discussões pq todo mundo vai ter a possibilidade de traduzir melhor o que querem do produto.
Quando as empresas tiverem seus Jarvis + um Lovable interno munido do DS da empresa, aí o builder ganha mais sentido, na minha opinião.